A IL marcou para hoje um debate potestativo, fixando a ordem do dia, em torno de uma proposta de revogação do polémico artigo 6.º da Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital, relativo ao direito à proteção contra a desinformação.
Na sua intervenção no arranque do debate, o deputado único da IL assinalou que o partido pretende revogar este artigo porque "mais do que inúteis", as suas disposições "são perigosas e são inaceitáveis".
O presidente do partido criticou que o artigo 6.º "propõe uma abordagem à desinformação que abre a porta à censura e à autocensura, perigosamente próxima da defesa de uma ‘verdade oficial’, criando riscos e problemas cem vezes, mil vezes, piores do que aquele que supostamente iria resolver".
Apontando que este artigo "pretende dar a entender que se trata de uma espécie de transposição para a legislação portuguesa do plano europeu de ação contra a desinformação", o deputado considerou que "pouco tem a ver" mas defendeu que "há omissões que são escandalosas".
O líder da IL referiu que este plano "exclui da definição de desinformação as opiniões políticas", enquanto a versão portuguesa não o faz e sublinhou que "a omissão deliberada desta exclusão por parte do Partido Socialista não é casual e só pode ter um significado: o PS pretende controlar o discurso político online", o que é "taxativamente inaceitável".
Na sua ótica, "o PS e o Governo sabem bem que o que propuseram na carta é inaceitável em qualquer país democrático".
Para o dirigente, também é "inaceitável condicionar o discurso político" que possa ameaçar os processos de elaboração de políticas públicas e "a ideia de transformar as entidades verificadoras de dados numa espécie de direções-gerais do ministério da verdade tem tanto de perigosa como de bizarra".
Neste ponto, o deputado argumentou que "os verificadores, entidades independentes a funcionar livremente em ambiente concorrencial, também se enganam e nem sempre coincidem nas suas avaliações".
"Nesses casos, quem verifica os verificadores? O Governo? Pois é isso mesmo que nunca, mas nunca, podemos aceitar", frisou, defendendo que "não pode admitir abrir esta porta perigosíssima em que se atribui a alguém o poder de definir o que é verdadeiro ou falso".
João Cotrim Figueiredo assinalou igualmente que, dos 27 países que responderam ao inquérito levado a cabo pela Assembleia da República, nenhum tem entidades oficiais de verificação de factos nem atribui selos de qualidade a órgãos de comunicação social.
"É caso para dizer que há zero casos porque a proposta faz zero sentido", defendeu Cotrim Figueiredo.
Alertando que a liberdade de expressão não pode ser "coartada, seja nos meios tradicionais, seja nos meios digitais", Cotrim Figueiredo apontou que "é isso mesmo" que a carta, "e em particular o seu artigo 6.º, vem fazer".
No início da sua intervenção, o deputado único da IL disse que o objetivo deste agendamento é fazer "um alerta" de que "a liberdade é preciosa e que a sua conquista não é irreversível".
O deputado considerou também que "são inegáveis os sinais de que, em Portugal, a convicção e a coragem de defender a Liberdade começam a escassear", nomeadamente durante à pandemia.
Para a IL, "a única maneira de combater a desinformação é com mais e melhor informação, com cidadãos mais autónomos e mais independentes, com uma sociedade menos submissa e mais habituada ao escrutínio e à crítica" e o combate à desinformação passa por uma "imprensa livre e independente, incómoda para os poderosos e exigente no escrutínio de quem decide".
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