Alguns minutos e muita insistência depois, a idosa percorre, lenta, apoiada numa bengala e amparada pela outra mulher, a curta distância que separa a porta de sua casa do carro no qual a sua sobrinha a leva, de seguida, para fora de Cabreira.
Os cerca de 60 utentes do lar de terceira idade da aldeia também já deixaram Cabreira, transportados por equipas da Cruz Vermelha, da Segurança Social e da Câmara de Góis. Tal como a maior parte dos cerca de outros tantos habitantes de Cabreira.
Só ficaram os mais novos, alguns homens e jovens e uma ou outra mulher.
Numa sinuosa e estreita rua da povoação, que é, “de longe”, uma das mais populosas de toda a área nascente do concelho de Góis, um homem, à porta de casa, apoiado num par de canadianas, questiona a reportagem da Lusa: “Vocês também acham, de verdade, que devo ir?”.
Acabou também ele por ir, por deixar Cabreira e seguir para a vila de Góis, local de acolhimento da população desta e outras localidades evacuadas, hoje de manhã, por causa dos incêndios que as ameaçam, sobretudo desde o princípio da tarde.
Em Sandinha, aldeia a cerca de dois quilómetros de Cabreira e, igualmente, da União de Freguesias de Cadafaz e Colmeal, enquanto ajuda a combater as chamas, o presidente da Junta de Góis, Graciano Rodrigues, explica a dificuldade que as pessoas têm em deixar as suas casas.
“E agora há mais um motivo”. Não falta quem, no sábado, ao andar pelas estradas de Pedrógão Grande, a fugir ao fogo, tenha morrido.
Pelas 18:00, sobretudo ao longo da estrada que atravessa Cabreira, as cerca de duas a três dezenas de pessoas que se mantém na aldeia (algumas familiares de residentes em permanência), esperam pelo fogo, que ameaça chegar pelas duas encostas que, ali descem para o rio Ceira.
“Não podemos fazer nada enquanto ele [o fogo] não chegar e vai chegar”.
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