Foi aberto um estradão que envolve a aldeia num anel de segurança e no interior foram arrancados os eucaliptos junto às casas e substituídos por árvores de fruto.

A abundância de nascentes foi aproveitada para armazenar água em depósitos de grande capacidade, que alimentam por gravidade quatro bocas de incêndio, equipadas com mangueiras que chegam a todas as casas, e uma delas ainda dá para abastecer autotanques dos bombeiros.

A situação, apesar do perigo potencial, por se tratar de uma aldeia a meia encosta numa zona de denso eucaliptal, é hoje bem diferente da de 2016, em que “só não arderam as casas e ardeu tudo à volta”, e de 1986, quando se deu o grande incêndio do Caramulo, em que morreram vários bombeiros e que acabou extinto ali.

Percebe-se logo ao virar para a estrada municipal que dá acesso a Alcafaz: depois de umas quantas curvas, um grande painel informativo com diferentes cores e um ponteiro indica o grau de risco de incêndio, consoante a temperatura e humidade. O grande ainda ponteiro é mudado manualmente pelos sapadores florestais, mas a ideia é automatizá-lo com sensores.

Prosseguindo pela estrada sinuosa chega-se ao aglomerado de casas com ruas estreitas em declive e uma modesta capela. Em cada esquina estão afixadas placas indicativas do “ponto de encontro”, para onde as pessoas devem convergir quando há fogo, para aguardarem que o perigo passe ou mesmo serem evacuadas se a situação o justificar.

“Esta é uma aldeia exemplo, porque tem toda esta complementaridade de defesa e do trabalho que foi feito pelos locais, pela junta e pela câmara, de defesa perimétrica da aldeia. Dentro do projeto "Aldeias seguras, pessoas seguras" o fundamental é proteger as pessoas”, considera António Ribeiro, comandante distrital de Aveiro da Proteção Civil.

José Carlos foi um dos mentores do que ali começou a ser feito, mesmo antes do programa “Aldeia Segura, pessoas seguras”.

“A ideia surgiu a partir de uma caminhada. Um dia, ao ver por onde é que havia de passar o percurso surgiu a ideia de fazer o estradão para termos um pouco de descanso com quem cá está, porque temos cá a nossa família, mas muitos de nós não vivemos aqui”, recorda.

A população mobilizou-se e ofereceu os terrenos, a câmara agarrou na ideia e concretizou-a.

O presidente da câmara, Jorge Almeida, enaltece a disponibilidade dos proprietários para ceder os terrenos e cortar os eucaliptos: “A câmara assumiu-se imediatamente como parceiro. Não podia deixar cair esta vontade genuína das populações”.

“A câmara construiu o estradão e as infraestruturas de apoio necessárias para o primeiro combate e proteção das pessoas. A colaboração e envolvimento da população foi essencial para desbloquear as questões administrativas e burocráticas que se levantam quando estamos a falar numa zona de minifúndio”, concretiza Glória Costa, chefe de divisão da autarquia.

Glória Costa adianta que o gabinete municipal de apoio ao agricultor está também a apoiar a plantação de árvores de fruto onde foram arrancados eucaliptos, para que as pessoas possam obter algum rendimento.

Com o estradão, ligação entre depósitos, carretéis e mangueiras, o investimento municipal já vai nos 50 mil euros, valor que duplicará com a construção de um novo depósito de 500 mil litros, a somar capacidade ao de 100 mil litros já existente, para abastecer helicópteros.

Vítor Silva, da proteção civil municipal, descreve o dispositivo: “temos uma rede de combate de incêndios interna com cobertura total. Tem quatro bocas com mangueiras que chegam a toda a aldeia”.

“É um risco acrescido as pessoas fugirem, como ficou provado em 2017. A ideia do projeto é arranjar um local seguro, no centro da aldeia, em que o risco diminui e, com o apoio dos oficiais de segurança, procura-se saber quem está na aldeia, se falta alguém e que se concentrem atempadamente nesse ponto. Mesmo que tenha de ser planeada uma evacuação, escusamos de andar a bater a cada porta”, sublinha o comandante do Comando Distrital de Operações e Socorro (CDOS), António Ribeiro.

O abrigo escolhido é um inesperado Alojamento Local “perdido” na Serra e explorado por Adelaide Pereira, com piscina e jardim privado, resultado da recuperação de uma casa da família, a que não faltam clientes.

“Temos tido bastante ocupação na maioria de estrangeiros e já passaram por cá 13 nacionalidades. Eu recebo os clientes em Águeda e faço algum enquadramento. Depois trago-os até cá cima e têm à sua espera o nosso espumante e um bolo de boas vindas. Quando fazem a reserva, está descrito no portal que o AL é ponto de encontro da proteção civil, em caso de incêndio”, explica.

Pela lotação e condições, a casa foi escolhida para proteger as pessoas em caso de incêndio e é com naturalidade que Adelaide Pereira colabora: “sou daqui e gosto disto!”.

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