A ideia para o projeto "Floresta Segura" surgiu na sequência dos incêndios que atingiram a zona de Tondela, distrito de Viseu, em outubro de 2017, indicou à agência Lusa o professor da FEUP Ademar Aguiar, especializado em Engenharia de Software e orientador do projeto.

Percebeu-se que "um dos grandes problemas é não existir um cadastro florestal completo e rigoroso do território de Tondela, a indicar a quem pertence cada território", referem responsáveis pelo projeto, citados em comunicado divulgado pela reitoria da Universidade do Porto.

Além disso, nessa zona, "os terrenos são pequenos e, num pequeno espaço de hectares, existem vários proprietários, sendo difícil contactar todos", acrescentou o professor Ademar Aguiar.

Para ajudar a colmatar o problema, a equipa está a desenvolver uma aplicação que visa otimizar o trabalho do Grupo de Intervenção Prevenção e Socorro (GIPS) da Guarda Nacional Republicana (GNR) e dos fiscais da câmara, ajudando-os a identificar situações anómalas relacionadas com a limpeza de terrenos.

Através desta tecnologia, será possível identificar os responsáveis por terrenos com necessidade de limpeza, bem como recolher e armazenar informação textual e geográfica relevante para prevenir futuros incêndios, como o tipo e a densidade de vegetação, que afeta a probabilidade e velocidade de combustão do terreno, explicou Ademar Aguiar.

Numa segunda fase, o grupo pretende desenvolver uma aplicação de carácter informal, orientada para os cidadãos, que permitirá fornecer às entidades competentes dados que ajudem a identificar essas situações, promovendo, assim, "uma cidadania mais ativa".

Segundo o professor, as funcionalidades da aplicação vão sendo definidas consoante o projeto for avançando, tendo em consideração as necessidades e o ‘feedback' da Câmara de Tondela, prevendo-se a apresentação dos primeiros resultados no final de maio.

Para dar início ao projeto, o grupo responsável pelo "Floresta Segura" visitou, no final de março, os locais afetados pelos incêndios de 15 e 16 de outubro de 2017, na companhia do GIPS.

No concelho de Tondela, as chamas atingiram em 2017 mais de quatro centenas de habitações, provocando prejuízos na floresta, no setor agropecuário, na indústria, no comércio e nos serviços e atingindo cerca de 70 empresas, além de três vítimas mortais.

O projeto integra estudantes de Engenharia Informática e Computação, Multimédia, Engenharia de Serviços e Gestão, e de Design de Comunicação da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP).

Este é um dos quatro projetos desenvolvidos pela empresa fictícia APPly, que agrega 47 estudantes e que foi criada no âmbito da unidade curricular Laboratório de Gestão de Projetos, do curso de Engenharia Informática da FEUP.

No âmbito da operação "Floresta Protegida", a GNR realizou, entre 15 de janeiro a 25 de março, "mais de sete mil ações de sensibilização a um total de cerca de 105 mil pessoas", através do Serviço de Proteção da Natureza e Ambiente (SEPNA) e do GIPS, revelou segunda-feira o chefe da divisão de comunicação e relações públicas da GNR.

No mesmo dia, a GNR iniciou a fase de fiscalização da limpeza dos terrenos florestais, procedendo ao levantamento de autos de contraordenação, que podem ficar sem efeito se os proprietários assegurarem a limpeza até 31 de maio.

Os proprietários tinham até 15 de março para limpar as áreas envolventes às casas isoladas, aldeias e estradas, evitando multas entre 280 euros e 120.000 euros, mas o Governo decidiu suspender a aplicação de coimas por incumprimento até junho.