Foi montado um hospital de campanha numa escola secundária local e no terreno os voluntários de várias associações fazem a recolha e aplicam os cuidados médicos gratuitamente a todos os animais, sejam eles de companhia, de produção ou selvagens.

Em consequência do incêndio florestal, os voluntários têm assistido um número não contabilizado de animais, a maioria com queimaduras e intoxicações causadas pelo fumo, disse à equipa de reportagem da Lusa a veterinária municipal, Ana Silva.

“A recolha dos animais feridos que estão no terreno tem sido um trabalho difícil, devido às dificuldades que temos na deslocação às zonas ardidas, e que só tem sido possível devido à voluntariedade de dezenas de pessoas”, indicou a médica, enquanto iniciava o tratamento de dois gatos resgatados com queimaduras.

Segundo Ana Sousa, como a queimadura é um ferimento “extremamente doloroso, a primeira intervenção é a aplicação de um analgésico para minimizar a dor, sendo nalguns casos necessária a sedação para evitar o sofrimento do animal”.

“Embora muitas pessoas tragam os animais consigo, há muitos que ficam para trás e à mercê de si próprios, e são esses que vamos tentando saber o local onde se encontram e capturá-los”, frisou.

Ana Silva acrescentou que a tarefa nem sempre é fácil: “Primeiro colocamos água para ganhar a sua confiança e podermos tratá-los, e acompanhar até serem devolvidos aos donos”.

“Embora existam casos fatais, há muitas alegrias como estas”, sublinhou Ana Silva enquanto acariciava o animal ao seu colo, acrescentando que o mesmo “precisa de carinho, de ânimo e de força para poder continuar”.

Segundo a veterinária municipal, o resgate dos animais é sempre acrescido de muitos desafios, como o afastamento de troncos de árvores e pedras de estradas e caminhos, mas “as dificuldades não são impedimento da boa vontade dos muitos voluntários que colaboram no resgate e assistência animal”.

No terreno, a percorrerem as áreas ardidas de todos os concelhos para prestarem assistência aos animais, andam os voluntários da Associação Nacional dos Alistados das Formações Sanitárias (ANAFES).

Coordenados pelo médico Nuno Paixão, a associação não tem limites na sua atuação, prestando assistência e acompanhamento médico-veterinário a todos os animais, sejam de companhia, de produção ou selvagens.

Segundo Nuno Paixão, os animais feridos nos concelhos afetados pelo incêndio de Monchique “são, felizmente, em menor número do que na última experiência em Oliveira do Hospital, devido ao tipo de fogo e de relevo do terreno”.

“Estamos espalhados por várias aldeias da serra e à medida que vamos avançando é que encontramos casos, número esse que vai aumentando, sendo neste momento difícil de falar numa quantificação”, disse à Lusa Nuno Paixão.

Segundo o clínico, a associação ANAFES presta “assistência imediata aos animais, como água, alimento e tratamento, e tenta manter o acompanhamento, que pode durar semanas ou meses”.

A ANAFES é composta “apenas por voluntários com formação de pronto-socorro mesmo destinado a humanos, atuando com consonância com a Proteção Civil, dispondo de material de apoio e assistência ao tratamento animal, na grande maioria doado pela sociedade civil.

O incêndio rural, que está a ser combatido por mais de mil operacionais, deflagrou na sexta-feira à tarde em Monchique, no distrito de Faro, e lavra também no concelho vizinho de Silves, depois de ter afetado, com menor impacto, os municípios de Portimão (no mesmo distrito) e de Odemira (distrito de Beja).

Segundo um balanço feito hoje de manhã, há 36 feridos, um dos quais em estado grave (uma idosa internada em Lisboa), e 299 pessoas estavam deslocadas e distribuídas por centros de apoio, depois da evacuação de várias localidades. Outras nove pessoas acamadas estão dispersas por unidades de saúde.

Durante a tarde, o cenário ficou “mais tranquilo”, segundo a Câmara de Monchique.

De acordo com o Sistema Europeu de Informação de Incêndios Florestais, as chamas já consumiram 23.478 hectares. Em 2003, um grande incêndio destruiu cerca de 41 mil hectares nos concelhos de Monchique, Portimão, Aljezur e Lagos.

Na terça-feira, ao quinto dia de incêndio, as operações passaram a ter coordenação nacional, na dependência direta do comandante nacional da Proteção Civil, depois de terem estado sob a gestão do comando distrital.