Miguel Borges afirmou que foi um “disparate” entregar equipamento que não tem qualquer utilidade para pessoas que têm por função servir de ligação às pessoas que habitam nas aldeias, ajudar na sua orientação para lugares seguros e apoiar os que efetivamente combatem incêndios com indicações precisas sobre o terreno.

“O apoio que dão é longe e muito antes do fogo chegar”, declarou, adiantando que as instruções que têm sido dadas aos oficiais de segurança locais é garantirem que as pessoas se sintam protegidas antes do fogo chegar às suas localidades, cabendo o combate aos bombeiros e grupos de intervenção que têm essa missão.

Miguel Borges afirmou que a única coisa que “faz sentido” dentro do “kit” distribuído é o colete, lamentando, contudo, que apenas tenha sido entregue um, tendo em conta que além do oficial há um elemento suplente, pelo que o município está a adquirir mais coletes para identificação dos elementos de ligação às populações.

“Há muita politiquice à volta deste assunto. Há falta de bom senso em muitos lados”, lamentou.

Carlos Gaspar, oficial de segurança em Montalegre, na freguesia de Santiago de Montalegre, no concelho do Sardoal (distrito de Santarém), disse à Lusa que, quando recebeu o “kit”, percebeu que não ia para os fogos, sendo a sua missão “ajudar a população” e encaminhar os elementos dos bombeiros e da GNR que não conheçam o terreno.

Dentro do “saquinho” que recebeu está um colete, um lenço para usar caso haja fumo, um rádio a pilhas, um apito e uma lanterna.

“Nunca recebemos qualquer informação para irmos para o fogo”, disse, orientação que é confirmada por Hugo Gaspar, oficial de segurança na aldeia de Santa Clara, na freguesia de Alcaravela, Sardoal.

“Indicaram-nos que não íamos para a frente de fogo, mas sim orientar pessoas para os pontos escolhidos” para serem concentradas em caso de incêndio, disse Hugo Gaspar, adiantando que admite usar o colete e o lenço, este caso haja fumo no ar, como foi indicado.

O comandante dos Bombeiros Municipais de Santarém, José Guilherme, disse à Lusa que no caso das quatro aldeias da freguesia de Alcanede, considerada de intervenção prioritária, onde foram já realizados os exercícios da “Aldeia Segura”, nem os coletes entregues vão servir, por serem demasiado pequenos, estando o município a fazer os procedimentos para adquirir esta peça identificadora para as unidades locais de proteção civil que vão ser criadas nas 18 freguesias do concelho.

Jorge Correia, oficial de segurança na aldeia de Canal, Abrã (Santarém), confirmou à Lusa que “o colete não serve” e que entende o material recebido apenas como servindo para ser identificado e não para ir para a frente de fogo.

Na sequência da manchete de hoje do Jornal de Notícias, sobre a distribuição de equipamento fabricado com material inflamável no âmbito do programa “Aldeias Seguras” e “Pessoas Seguras”, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil afirmou que os materiais distribuídos não são de combate a incêndios nem de proteção individual, mas de sensibilização de boas-práticas.