"Há muitos proprietários que querem substituir. As pessoas já estão por tudo. Como já perderam tudo e como a grande parte das pessoas já está com mais de 40 ou 50 anos - para não dizer mais -, estão dispostas a apostar em espécies autóctones que só vão dar rendimento daqui a 50 anos, para os seus filhos e netos", disse à agência Lusa o presidente da CAULE - Associação Florestal da Beira Serra, Vasco Campos.

Apesar de reconhecer essa disponibilidade dos proprietários, Vasco Campos sublinha que a "história da reflorestação não existe", acreditando que grande parte do território vai ser reflorestada a partir da regeneração natural.

"A floresta regenera-se por si só. O que é preciso é fazer a gestão do território", defendeu.

No entanto, nota que há muitas pessoas com "apetência" para mudar dos eucaliptos para folhosas.

"As pessoas estão disponíveis para mudar, mas precisam de ajudas. Estão disponíveis para gastar algum dinheiro, mas não para gastar tudo. Perderam tudo e veem a mudança para espécies que não lhes vão dar rendimento durante dezenas de anos como um serviço que estão a prestar à sociedade", vincou Vasco Campos.

De acordo com o presidente da CAULE, seria necessário "as medidas de arborização de autóctones avançarem o quanto antes", considerando que intervir em "2% ou 3% do território na época 2018/2019 já era bom".

Vasco Campos notou que 2% no território abrangido pela CAULE já seriam "mil hectares de espécies autóctones”.

“Era muito bom", garantiu.

De acordo com o presidente da associação, a reflorestação tem que se encarar no longo prazo, considerando que "não é possível mudar tudo de um momento para o outro".

Já o presidente da Associação dos Produtores Florestais de Mortágua (APFM), João Silva, afirma que as pessoas "não sentem vontade de investir e o que se tem visto cada vez mais é pessoas a querer vender e a não haver ninguém a querer comprar".

E, vincou, quem quer investir, quer investir "com as mesmas espécies, que são essas que lhes têm dado rendimento ao longo da vida".

Num concelho povoado essencialmente por eucaliptos, a perspetiva é que continue assim, referiu João Silva.

No entanto, nem tudo ficou como estava antes do incêndio, sublinhou.

"À volta das aldeias, as pessoas estão a cortar o que era eucaliptos e vai começar a surgir outro tipo de arvoredo nessas zonas", observou, considerando que essa alteração de consciência não deverá passar para o resto do território, caracterizado por terrenos "bastante clivosos e com solos paupérrimos".

Já na Solo Vivo, associação que cobre os territórios de Tondela, Carregal do Sal e Oliveira do Hospital, nota-se o interesse de "várias entidades e pessoas em fazerem várias ações de reflorestação com carvalho, pinheiro manso e sobreiros", contou à Lusa a presidente da associação, Carla Godinho.

"Acho que a zona vai sofrer alguma alteração da paisagem para melhor e é importante que se tomem medidas para que não se plante eucalipto em qualquer lado. Esta é uma oportunidade para se mudar um pouco a floresta", frisou.

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