![Incêndios: Testes concluem que golas antifumo não se inflamam quando expostas ao fogo](/assets/img/blank.png)
O relatório preliminar a que o SAPO24 teve hoje acesso refere que após vários testes e exames a “golas iguais às que foram distribuídas à população”, no âmbito do programa “Aldeia Segura, Pessoas Seguras”, que “as golas testadas não se inflamaram, isto é, não entraram em combustão com chama – mesmo quando sujeitas a um fluxo de calor de muito elevada intensidade”.
O mesmo documento acrescenta que os testes revelaram que as golas não inflamaram “mesmo quando colocadas a uma distância inferior a 50 centímetros das chamas, durante mais de um minuto”.
Os ensaios concluíram ainda que as golas chegam a furar quando testadas a cerca de 20 centímetros das chamas, mas sem arderem.
Diz o relatório que, apesar de "não constituírem equipamento de proteção individual, destinando-se à proteção das vias respiratórias em situações de evacuação e de deslocação para abrigos ou refúgios", os "testes realizados afastam os perigos de combustão que foram sendo erroneamente apontados" às golas.
O Jornal de Notícias noticiou na sexta-feira que 70 mil golas antifumo fabricadas com material inflamável e sem tratamento anticarbonização foram entregues à população abrangida pelo programa “Aldeia Segura, Pessoas Seguras” e custaram 125 mil euros.
Após essas notícias, que já levaram à demissão de Francisco Ferreira, adjunto do secretário de Estado da Proteção Civil, o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, mandou efetuar, através da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), testes e um relatório ao Centro de Investigação de Incêndios Florestais (CIIF), dirigido por Xavier Viegas.
Os testes destinaram-se “a avaliar o comportamento das golas quando expostas a um ambiente próximo de um incêndio florestal” e, “em concreto, avaliar se as referidas golas se inflamavam quando sujeitas a um forte fluxo radiativo, semelhante ao de uma frente de chamas como as que ocorrem em incêndios florestais, podendo colocar em perigo o seu utente, pelo facto de entrarem em combustão”.
O relatório conclui que "os cidadãos podem continuar a confiar na Autoridade e a utilizar as 'golas', tendo presente que as mesmas não consubstanciam equipamentos de proteção individual para combate a incêndios rurais".
A ANEPC entregou um conjunto de 28 golas idênticas às que foram distribuídas à população, para a realização dos ensaios.
Os ensaios foram realizados no Laboratório de Estudos sobre Incêndios Florestais no dia 28 de julho de 2019 e na realização dos ensaios estiveram envolvidas nove pessoas.
O CIIF refere que o documento “constitui um relatório preliminar muito sucinto, uma vez que não foram ainda analisados muitos dos parâmetros que foram objeto de medição e registo durante os ensaios”.
Uma câmara térmica registou continuamente a temperatura da amostra e os ensaios foram registados utilizando duas câmaras de vídeo e várias máquinas fotográficas digitais.
O primeiro ensaio, refere o relatório, com uma distância da gola ao cesto de um metro, verificou que “a gola estava praticamente intacta e por isso foi utilizada no ensaio seguinte.
Neste segundo ensaio, a distância foi reduzida para meio metro e no final “a gola estava praticamente intacta, mas optou-se por utilizar uma nova peça no ensaio seguinte”.
Neste, a distância foi reduzida para 30 centímetros e no final “a gola estava deformada e apresentava uma perfuração, por impacto térmico, embora não tenha entrado em combustão”.
Um ensaio seguinte, realizado a 20 centímetros das chamas, demonstrou que “a gola estava muito perfurada, embora não se tenha inflamado”.
Foram realizados ensaios complementares para analisar o comportamento das golas face ao impacto de partículas incandescentes e ao contacto com uma chama, do tipo chama de isqueiro ou de mato.
Segundo o relatório, “verificou-se que as partículas incandescentes perfuravam a gola, mas esta não se inflamava, isto é, a combustão com chama não era sustentada”.
“O contacto com uma chama viva produzia uma perfuração de maior ou menor diâmetro, mas em geral a combustão não se sustentava com chama viva. Esta situação de combustão com chama apenas ocorreu em determinadas situações de ignição com uma chama permanente e com o tecido da amostra situado praticamente na vertical”, lê-se.
Participaram nos testes o coordenador do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais, Domingos Xavier Viegas, Luís Reis (investigador doutorado), Carlos Xavier Viegas (investigador doutorado), Cláudia Pinto (investigadora mestre), Nuno Luís (técnico de laboratório), Gonçalo Rosa (técnico de laboratório), José Pedro Barge (licenciado em Engenharia Mecânica, estudante de mestrado), André Albino (licenciado em Engenharia Mecânica, estudante de mestrado) e Bruno Sampaio (licenciado em Engenharia Mecânica, estudante de mestrado).
[Notícia atualizada às 19:38]
Comentários