Os índios entregaram uma carta ao presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, Rodrigo Maia, na qual expressaram o seu “repúdio” pelo projeto e pediram a sua ajuda para conter o progresso da proposta no Congresso Nacional.

“Acreditamos que este projeto, que abre as nossas terras à exploração e aos interesses económicos dos ricos e poderosos, significa uma declaração de guerra para os povos indígenas do Brasil”, lê-se na missiva.

De acordo com o projeto de lei apresentado por Jair Bolsonaro no início do mês, os indígenas brasileiros não terão poder de veto sobre os projetos de mineração ou produção de energia elétrica nas suas reservas, mas serão compensados e terão uma participação nos lucros.

O projeto, uma das principais promessas de campanha de Bolsonaro, também permite que os índios explorem economicamente as suas terras através de atividades como agricultura, pecuária e turismo, atualmente vetadas nas reservas indígenas, territórios pertencentes ao Estado, mas delimitados para usufruto dos povos originários que os ocupam.

“Para nós, liberdade é usufruir do nosso território nacional sem mineração, sem hidroeletricidade e sem agronegócios, em comunhão com rios, árvores e animais”, acrescenta o documento.

A advogada Joenia Wapichana, a primeira mulher indígena a ocupar um lugar na Câmara dos Deputados do Brasil, disse à agência Efe que o projeto apresentado pelo chefe de Estado é “inconstitucional” e representa mais um perigo para os povos indígenas.

O indígena Ingaté, da etnia Kaingang, deslocou-se do Paraná, no sul do país, até Brasília, para criticar fortemente as políticas governamentais defendidas por Bolsonaro, considerando que “estão a destruir” a natureza.

“Ele sabe o que está a fazer e fá-lo por maldade, temos direito às nossas terras”, disse Ingaté, acrescentando: “Queremos respeito, que eles parem de destruir a natureza, colocando fogo nas florestas, sujando a água que bebemos. Tem que parar”.

Desde que assumiu a Presidência em 01 de janeiro de 2019, Jair Bolsonaro mostrou-se a favor da exploração económica da Amazónia e chegou a afirmar que a exploração económica de reservas indígenas é um sonho antigo seu e também de algumas comunidades que desejam promover o seu próprio desenvolvimento e ter as condições de vida dos restantes brasileiros.

“O que Bolsonaro chama de sonho é para nós o pior dos pesadelos”, diz a carta enviada pelos indígenas ao congresso.