A sua cidade natal (Lampuuk) foi quase completamente destruída, mas, apesar do trauma, o pai de dois filhos ainda vê o mar como uma maneira de superar feridas.

"O surf tem sido a melhor cura para o meu trauma [provocado pelo] tsunami. Quando estou nas ondas, todos os meus medos desaparecem e posso abraçar o passado e estar em paz com ele", revela Dery Setyawan, de 35 anos, à agência France-Press (AFP).

A 26 de dezembro de 2004, um tsunami provocado por um terremoto no fundo do mar de 9,3 na escala de Richter na costa da Sumatra, Indonésia, provocou a morte de 220 mil pessoas em vários países do Oceano Índico, 168 mil delas na Indonésia.

A Indonésia foi a mais atingida, com pelo menos 170.000 mortos, embora o verdadeiro número provavelmente seja maior, já que muitos corpos nunca foram recuperados ou identificados. A cidade indonésia de Banda Aceh registou o maior número de vítimas.

Para Setyawan e outros de Lampuuk, nos arredores de Banda Aceh, o surf tornou-se uma maneira de ajudá-los a recomeçar do zero.

"A água faz parte das nossas vidas aqui. É onde moramos, interagimos com a família, outras pessoas e onde ganhamos dinheiro para viver", confessa.

Em 2012, o filme "The Impossible", protagonizado por Naomi Watts e Ewan McGregor, abordou o tema. Inspirado numa história verídica, trata-se dum relato de uma família espanhola apanhada, juntamente com dezenas de milhares de outras pessoas, no caos de uma das piores catástrofes naturais do nosso tempo.

Túmulos

A sua cidade foi quase totalmente destruída quando foi atingida pela força das ondas — arrancando palmeiras e rachando edifícios. Dos 7.000 residentes de Lampuuk, apenas 300 sobreviveram.

Setyawan perdeu as duas avós e o irmão bebé, assim como muitos dos seus amigos. E recorda-se da água a bater na sua casa e da sua força — que o arrastou cerca de 200 metros até atingir alguns detritos, aos quais se agarrou, literalmente, para salvar a vida.

Nos anos seguintes, os residentes que sobreviveram ficaram com medo da água. "Nós olhávamos para as ondas apenas para verificar se o nível da água tinha descido", explica Setyawan.

Porém, após o primeiro aniversário do desastre, decidiu enfrentar os seus medos e voltou à água.

"As ondas da praia são nossas amigas, as que mataram as pessoas durante o tsunami foram as do fundo do oceano. Foi disto que me convenci antes de entrar pela primeira vez [desde o incidente] na água", lembra.

Hoje, é surfista profissional e participa em competições nacionais e internacionais, tendo organizado o Campeonato de Surf de Aceh no mês passado.

A sua cidade, Lampuuk, reergueu-se e foi reconstruída com sinais de alertas de tsunami em vários locais.

A população, ainda que longe da população antes de 2004, cresceu para os 2.000 habitantes. Todavia, Setyawan pretende transformar as margens de um local de desespero numa orla de esperança. É por isso que montou um clube de surf local e abriu um restaurante à beira-mar — está confiante no potencial do turismo.

"O surf é uma maneira de atrair as pessoas para voltarem a este lugar mesmo depois do tsunami", conta.