O que sucedeu, poderia ter sido “evitado porque, pelo menos há quatro anos, que nós, empresários, propomos à câmara” o corte daquele troço de estrada, a antiga estrada 255, que liga Borba a Vila Viçosa, disse hoje à agência Lusa José Batanete, empresário do setor.
Segundo o industrial, que possuía há quatro anos uma pedreira de extração de mármore junto à estrada onde aconteceu o deslizamento de terras, entretanto vendida, os empresários até apresentaram ao município “soluções” alternativas para a circulação rodoviária “para que aquilo [o colapso da estrada provocando vítimas] não pudesse ou não devesse acontecer”.
“Entretanto, como costuma ser usual neste país, as coisas, pelos vistos, caíram todas em ‘saco roto’, até à tragédia que se verificou ontem [na segunda-feira]”, lamentou José Batanete.
Contactado pela agência Lusa, outro industrial do setor com pedreiras de extração de mármore naquela zona, Luís Sottomayor, sublinhou que “há muito tempo” que “os problemas da estrada” estavam identificados.
Há quatro anos, recordou, a então Direção Regional de Economia promoveu uma reunião de trabalho com os empresários e com a câmara “no sentido de cortar esta estrada, numa parte que era perigosa”, visto que servia, não apenas para acesso às pedreiras, mas para a circulação rodoviária dos habitantes em geral.
Os técnicos do Ministério da Economia, ligados à área de geologia, assinalou, alertaram que “o problema” era que a estrada poderia “cair de um momento para o outro e não dava segurança”.
“E nós anuímos porque temos as pedreiras aqui, somos empresas responsáveis, gostamos de trabalhar em segurança e aquilo também era uma insegurança para nós, além de nos limitar” quanto a “trabalharmos mais junto à estrada”, disse.
Na altura, evocou, não chegou a “haver consenso” entre os empresários para o corte da estrada e “não saiu nada” de concreto da reunião, na qual participaram cerca de 10 industriais: “Alguns colegas, chamaram-nos malucos” e disseram que “a gente estava a levantar um problema que não existia”.
José Batanete confirma, ressalvando, contudo, que os opositores à interrupção do trânsito na via rodoviária representavam “uma minoria”.
“Ninguém pensava que isto acontecesse”, julgavam que “era tudo estudos, que aquilo iria durar mais não sei quantos anos”, argumentou.
Luís Sottomayor explicou ainda que, nessa altura, os empresários efetuaram um estudo, que poderia ter servido de “base de trabalho” e que apresentaram ao município, identificando o problema” e, no caso de corte daquela estrada, “como é que cada empresa” na zona poderia “ter acesso a Borba e a Vila Viçosa” através de “caminhos alternativos”.
“Ficou tudo em ‘águas de bacalhau’”, lamentou, argumentando que quem circulava na estrada “não percebia”, devido às sebes que a ladeiam, mas o que ali se encontrava, com pedreiras de um lado e de outro, “era uma ponte estreitinha, um talude, de seis metros” de largura por pouco mais de 100 de comprimento.
Luís Sottomayor argumentou que, na altura, “foi dito” ao autarca de Borba que, “se houvesse algum azar, a responsabilidade” seria “da câmara”.
“As responsabilidades não sei quem as tem”, disse, por seu turno, José Batanete, afirmando-se “revoltado” com o sucedido e recordando: “Ficou combinado que a câmara iria fazer uma assembleia municipal, propor à população que a estrada deixasse” de ter trânsito, mas tudo “caiu em ‘saco roto’”.
Comentários