Ringbahnbrücke, uma ponte em Berlim foi recentemente demolida após terem sido detetadas fendas significativas. Os escombros da infraestrutura com mais de 60 anos permanecem no lugar.

Wolfgang, de 82 anos, técnico reformado, conta ter assistido à construção a partir da janela do seu apartamento, em entrevista ao The Guardian. “Agora temos de esperar que consigam organizar-se para construir uma nova, embora duvide que ainda esteja vivo quando a terminarem”, comenta.

A ponte foi encerrada inesperadamente em março, provocando o caos e forçando o desvio em massa dos 100 mil veículos que por ali passavam diariamente.

Um mês depois, no leste de Berlim, a estrategicamente importante ponte de Wuhlheide foi adicionada à crescente lista das chamadas “Brösel-Brücken” (pontes esfareladas) e encontra-se em processo de demolição. Foram várias em toda a Alemanha, algumas recentemente encerradas ou, em casos mais graves, que colapsaram. Especialistas estimam que cerca de 4 mil pontes da autoestrada (Autobahn) e 12 mil outras pontes rodoviárias necessitam urgentemente de reparação ou substituição.

O problema tem preocupado o governo alemão, que, a par do estado de degradação das escolas e da rede ferroviária em dificuldades, passaram para o topo da agenda a renovação das infraestruturas envelhecidas da Alemanha, com Friedrich Merz a prometer investir milhares de milhões.

Na cidade de Dresden, no leste do país, em setembro passado, a ponte Carola desabou durante a noite, apenas 10 minutos depois de uma carruagem de elétrico ter passado sobre ela. A ponte tinha 53 anos e atravessava o rio Elba. As autoridades municipais consideraram um milagre não ter havido vítimas.

Construção, demolição e trabalho

As obras congestionaram o tráfico, como aconteceu na cidade de Lüdenscheid, no oeste da Alemanha. Mais de 25 mil camiões pesados passavam por dia no viaduto que ruiu, em 2021. A ponte foi posteriormente demolida. Os habitantes queixam-se do ruído intenso e da poluição atmosférica, enquanto os empresários afirmam que o volume de negócios caiu e que trabalhadores qualificados estão a abandonar a zona em massa. Uma nova ponte parcial está em construção, com conclusão prevista para o próximo ano.

Oliver Holtemöller, chefe de macroeconomia do Instituto Halle para Investigação Económica, afirma que o problema não está na falta de financiamento público, mas noutros fatores: “A carga burocrática, os procedimentos de planeamento altamente complexos e a falta de profissionais qualificados para executar as obras.”

Segundo o responsável, isto é agravado por “políticos que querem ser reeleitos e, por isso, priorizam projetos com retorno a curto prazo”. Mesmo antes de tomar posse como chanceler no mês passado, a degradação das infraestruturas já era uma das principais preocupações internas de Friedrich Merz.

Em março, Merz conseguiu aprovar no parlamento um fundo de 500 mil milhões de euros para injetar dinheiro no combate ao infrastrukturstau (congestionamento de infraestruturas) ao longo dos próximos 12 anos, a ser financiado através de endividamento.

As pontes tornaram-se ainda mais centrais no debate, sobretudo com o reconhecimento de que os custos da sua renovação podem ser incluídos nas obrigações de despesa militar da Alemanha. Afinal, as pontes devem ser capazes de suportar tanques militares; têm de ser kriegstauglich (aptas para a guerra). Muitas, no seu estado atual, não o são.

Para os Verdes e outros partidos da oposição, esta abordagem vai longe demais. No entanto, com o governo a mostrar-se disposto a aumentar gradualmente a despesa com defesa de 2% para os 5% exigidos por Donald Trump aos membros da NATO, está também a expandir o conceito de “gastos com defesa”. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Johann Wadephul, afirmou que pretende incluir não apenas os gastos puramente militares, mas também os investimentos em infraestruturas de que os militares necessitam — como estradas, caminhos-de-ferro e pontes.

A própria Alemanha em decadência

Segundo um relatório da Câmara Alemã da Indústria e Comércio, que representa milhões de empresas, o estado das pontes do país é “simbólico do estado deplorável de toda a infraestrutura na Alemanha”.

Em declarações ao canal RBB, Helmut Schmeitzner, professor de engenharia estrutural na Escola de Economia e Direito de Berlim, alertou: “No geral, a nossa infraestrutura está num estado tal que temos de esperar que episódios como encerramentos de estradas e colapsos de pontes venham a acontecer com maior frequência no futuro.”

O Heute-show, um programa satírico da televisão alemã com muito sucesso, dedicou recentemente um episódio inteiro ao tema “Alemanha em ruínas”, face às preocupações vigentes. “Rust in peace” (um trocadilho com “descansa em paz” e “ferrugem”) seria o slogan apropriado para o estado da nação, brincou o programa, caso nada melhore.

Para muitos, no entanto, não é motivo de riso e a indignação cresce perante o Governo, voltando a abrir espaço para as forças políticas de extrema-direita.

Como solução, Oliver Holtemöller apelou ao governo para não tentar “consertar a Alemanha à pressa”, pois isso poderia alimentar a inflação sem gerar valor real ou melhores pontes. Em vez disso, defendeu que é preciso “analisar onde o investimento é mais necessário, que pontes estão no fim da sua vida útil”, e “alinhar ações com palavras, sem prometer mais do que aquilo que é possível cumprir”.

“O mais importante é focar-se num planeamento estratégico de longo prazo.”