Os três segredos de Fátima terão sido revelados nas “aparições” de Nossa Senhora a três crianças que andavam a guardar um rebanho - Lúcia, Jacinta e Francisco -, em junho e julho de 1917.
Os primeiros dois segredos são uma visão do Inferno e a devoção do mundo, incluindo a Rússia, ao Imaculado Coração de Maria, e foram revelados por Lúcia em dois escritos, nos anos 40 do século passado.
Os três segredos de Fátima sempre estiveram envolvidos em polémica. Seja por as primeiras descrições de Nossa Senhora a apresentar-se de azul e com saia até ao joelho, seja por ter sido "previsto" o fim da I Guerra, que não veio a concretizar-se naquela data, em 1917.
Na sua interpretação do terceiro segredo, o cardeal Joseph Ratzinger, mais tarde papa Bento XVI, mais do que valorizar a parte da "previsão" do atentado ao papa João Paulo II, nunca se referiu ao fenómeno como "aparições" de Nossa Senhora, encarando-as antes como "visões". E destacou que a mensagem fundamental de Fátima é o apelo à fé e à conversão, mais do que a referência ao papa vestido de branco.
As três crianças tiveram, segundo a história oficial, um envolvimento diferente nas "aparições", que se prolongaram de maio a outubro de 1917. Lúcia terá visto, ouvido e falado com a Senhora, Jacinta terá visto e ouvido e Francisco apenas teria visto a Nossa Senhora.
Lúcia, que viveu até 2005, foi fazendo sucessivos textos sobre os segredos, remetendo as interpretações para a Igreja e a sua hierarquia.
Primeira parte do segredo
O primeiro segredo, segundo Lúcia, refere-se a uma visão do inferno que terá sido relatada às três crianças, num “instante terrível”.
O relato é feito por Lúcia na sua “Terceira Memória”, em 1941:
“Nossa Senhora mostrou-nos um grande mar de fogo que parecia estar debaixo da terra. Mergulhados em esse fogo, os demónios e as almas, como se fossem transparentes e negras ou bronzeadas, com forma humana, que flutuavam no incêndio levadas pelas chamas que delas mesmas saíam juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das faúlhas em grandes incêndios, sem peso nem equilíbrio, entre gemidos e gritos de dor e desespero que horrorizava e fazia estremecer de pavor. (…) Esta vista foi um momento, e graças à nossa boa Mãe do Céu, que antes nos tinha prevenido com a promessa de nos levar para o Céu (na primeira aparição)! Se assim não fosse, creio que teríamos morrido de susto e pavor”.
Segunda parte do segredo
O segundo segredo relaciona-se com a devoção do mundo, incluindo a Rússia, ao Imaculado Coração de Maria. A referência à Rússia só é feita por Lúcia, na década seguinte, em 1929.
Inicialmente, o texto de Lúcia fazia uma referência ao fim da guerra, no caso, a I Guerra Mundial. Há várias versões: a guerra acabaria nesse mesmo dia ou ia acabar em breve.
É no segundo segredo que surgem as referências à Rússia e à sua conversão, apesar de só ser feita claramente essa indicação por Lúcia em 1929.
Só se o Papa convertesse o mundo ao "Imaculado Coração de Maria" - que o mesmo é dizer se se tornassem crentes em Deus - se evitariam novas guerras e a Rússia (ou a União Soviética, comunista), se converteria, evitando desta forma que os seus "erros" se espalhassem pelo mundo.
Os primeiros relatos das três crianças descreviam que Nossa Senhora tinha um vestido azul, "até um pouco abaixo do meio da perna". Mais tarde, a imagem da Virgem foi sendo corrigida para o manto branco, que foi descendo até aos pés - e é essa imagem que é venerada na Cova da Iria.
O padre Manuel Formigão, que fez os primeiros interrogatórios às três crianças "rudes e ignorantes", comentou: "Nossa Senhora não pode, evidentemente, aparecer senão o mais decente e modestamente vestida. O vestido deveria descer até perto dos pés."
É após a revelação do segundo segredo que terá sido feito o pedido aos pastorinhos para "rezarem muito e oferecerem os seus sacrifícios pela paz, pelo Santo Padre e pela conversão dos pecadores".
Relato de Lúcia:
“(…) Levantamos os olhos para Nossa Senhora que nos disse com bondade e tristeza:
Vistes o Inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção a meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu disser salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar, mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior. Quando virdes uma noite, alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo pelos seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir virei pedir a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração e a Comunhão Reparadora nos Primeiros Sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz, se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas, por fim o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz.”
Terceira parte do segredo
Durante anos, alimentou-se a especulação sobre este segredo que foi revelado pelo cardeal Angelo Sodano, a 13 de maio de 2000, durante a última visita de João Paulo II ao santuário da Cova da Iria.
O terceiro segredo de Fátima inclui uma "previsão" do atentado contra João Paulo II, a 13 de maio de 1981, de acordo com uma das interpretações possíveis do Vaticano anunciada na Cova da Iria pelo cardeal Sodano, em 2000.
Esta conclusão é retirada da própria interpretação dada pelos pastorinhos sobre a mensagem que lhes foi revelada em 1917, segundo a qual o papa - "Bispo vestido de branco", como o referenciavam - "caminhando penosamente para a Cruz por entre os cadáveres dos martirizados (bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e várias pessoas seculares), cai por terra como morto sob os tiros de uma arma de fogo".
Angelo Sodano aludiu ao atentado de 1981 e "à mão materna que permitiu que o papa agonizante se detivesse no limiar da morte", mas acrescentou que o terceiro segredo está também relacionado com a luta contra o ateísmo.
Antes de ser papa, Ratzinger foi prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e nessa qualidade fez uma interpretação ao chamado terceiro segredo de Fátima. O "facto de ter havido lá uma 'mão materna' que desviou a bala mortífera demonstra uma vez mais que não existe um destino imutável, que a fé e a oração são forças que podem influir na história e que, em última análise, a oração é mais forte que as balas, a fé mais poderosa que os exércitos", escreveu Ratzinger, numa mensagem de esperança.
Os três segredos de Fátima, concluiu, significam, no seu conjunto, uma “exortação à oração como caminho para a salvação” e “o apelo à penitência e à conversão”.
Descrição do terceiro segredo por Lúcia na sua “Quarta Memória”, em 1944:
“E vimos n'uma luz imensa que é Deus: ‘algo semelhante a como se veem as pessoas n'um espelho quando lhe passam por diante’ um Bispo vestido de Branco ‘tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre’. Vários outros Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande Cruz de troncos toscos como se fora de sobreiro com a casca; o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meia em ruínas, e meio trémulo com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegado ao cimo do monte, prostrado de joelhos aos pés da grande Cruz foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam vários tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo uns trás outros os Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas e várias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de várias classes e posições(…)”.
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