“Entendo que foi, naquele momento e naquelas circunstâncias, uma boa decisão”, disse Rodolfo Lavrador no parlamento, em Lisboa, durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão da CGD.
O administrador do banco público entre 2008 e 2013, responsável pela área jurídica, afirmou que “em 2011 os títulos do BCP [dados como garantia por Berardo] já não tinham uma boa valorização” e que “o que se conseguiu foi um passo em frente”.
“A ideia que eu tenho é que nessa altura já estava constituída a possibilidade de haver algum tipo de garantia sobre os títulos de participação da Associação Coleção Berardo”, prosseguiu, salientando que esses títulos tinham já “um valor potencial bastante superior à ação do BCP”.
Questionado pelo deputado do PSD Duarte Marques sobre se não teria sido preferível vender as ações, Rodolfo Lavrador disse que aquilo que foi explicado na altura “é que não podia ser feito a não ser sem ser com uma operação estruturada”, que “iria ter como consequência” uma desvalorização “das cotações da ação naquele momento”.
“Em vez de se fazer aquela venda com enorme desconto, foi possível obter do devedor a possibilidade da Caixa ir vendendo as ações consoante se viessem a verificar incumprimentos”, justificou Rodolfo Lavrador.
O ex-administrador da CGD disse que foi a partir deste passo que “depois foi possível fazer o acordo quadro” com os outros bancos a quem as sociedades ligadas a Berardo também devem.
“Penso que a Caixa saiu numa melhor posição do que antes na perspetiva da recuperação”, considerou Rodolfo Lavrador, apesar de reconhecer que “obviamente que do ponto de vista do devedor não havia uma melhoria da posição”.
Mais tarde, questionado pela deputada do BE Mariana Mortágua sobre por que motivo não foi executada a coleção em 2011, Rodolfo Lavrador disse que “não seria muito sensato” fazer essa tentativa devido ao contrato de comodato com o Estado e o Centro Cultural de Belém para exposição das obras até 2016.
Na audição de José Berardo, conhecido por Joe Berardo, em 10 de maio, o empresário deu a entender que os títulos de participação da Associação Coleção Berardo (a dona das obras de arte da coleção de Berardo) que entregou aos bancos para reforçar as garantias dos empréstimos perderam valor com um aumento de capital em que as entidades financeiras não participaram, aparentemente porque não souberam que existiu.
A várias perguntas dos deputados, Joe Berardo disse ainda que deveriam era ser feitas aos bancos em causa: “Pergunte à Caixa, eles é que me emprestaram o dinheiro”.
Em 20 de abril, CGD, BCP e Novo Banco entregaram no Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa uma ação executiva para cobrar dívidas de Joe Berardo, de quase 1.000 milhões de euros, executando ainda a Fundação José Berardo e duas empresas ligadas ao empresário.
O valor em dívida às três instituições financeiras totaliza 962 milhões de euros.
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