“Foram (…) sendo procuradas soluções ao que o risco colocava. O parecer [de risco] não era desfavorável, tinha recomendações. Recordo que foi necessário confirmar contas da Metalgest e da Fundação Berardo”, disse Celeste Cardona na sua audição na comissão de inquérito à recapitalização e gestão da CGD, na Assembleia da República, em Lisboa.
Em resposta ao deputado do PCP Duarte Alves, a administradora do banco público entre 2004 e 2008 referiu ainda que foi dito nas reuniões que o empresário “tinha tido ganhos extraordinários no mercado financeiro e que era detentor de um património significativo”.
Celeste Cardona revelou ainda que as operações de concessão de crédito às sociedades ligadas a Joe Berardo foram aprovadas sem votos desfavoráveis.
A ex-administradora da CGD disse que a sua “preocupação essencial era a de saber em que condições o património total do devedor poderia responder se houvesse incumprimento”, e que “foi uma operação feita nos termos das que se iam fazendo no mercado”.
“Tanto quanto sei, o senhor Berardo tem uma coleção de arte com valor. Tinha uma fortuna avaliada em mais de 500 milhões [de euros]. Tinha bens que vendeu em 2008 para assegurar financiamento adicional”, respondeu mais tarde à deputada do PS Constança Urbano de Sousa, acrescentando que a direção jurídica da Caixa tinha um “cuidado especial” para salvaguardar os interesses do banco.
Já à deputada Mariana Mortágua (BE), Celeste Cardona disse que “a Metalgest [uma das sociedades de Berardo] tinha capitais próprios de 240 milhões de euros”, e que perante Berardo “ou outro devedor qualquer” a CGD exigia “garantias especiais”.
“O senhor Berardo era uma pessoa muito rica, segundo se dizia”, declarou Celeste Cardona.
Relativamente ao aval pessoal dado pelo empresário em 2008, Cardona considerou que “os bens do devedor não estão umbilicalmente ligados ao aval”, e que este constituía “mais um meio de pressão ao devedor do que uma exigência suscetível de ter alguma materialidade”.
A ida de Joe Berardo à comissão parlamentar de inquérito à CGD no passado dia 10 provocou um coro de críticas, desde logo pela forma como se dirigiu aos deputados.
Perante os parlamentares, o empresário madeirense declarou que é “claro” que não tem dívidas, uma vez que as dívidas aos bancos (incluindo o banco público CGD) não são dívidas pessoais, mas de entidades ligadas a si (Metalgest e Fundação José Berardo].
Berardo afirmou ainda que tentou “ajudar os bancos” com a prestação de garantias e que foram estes que sugeriram o investimento em ações do BCP.
Em 2015, segundo uma auditoria da EY à CGD, a exposição do banco público à Fundação José Berardo era de 268 milhões de euros, depois de uma concessão de crédito de 350 milhões de euros para compra de ações no BCP, dando como garantia as próprias ações, que desvalorizaram consideravelmente e geraram grandes perdas para o banco.
No caso da Metalgest, a exposição era de 53 milhões de euros.
Em 20 de abril, CGD, BCP e Novo Banco entregaram no Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa uma ação executiva para cobrar dívidas de Joe Berardo, de quase 1.000 milhões de euros, executando ainda a Fundação José Berardo e duas empresas ligadas ao empresário.
O valor em dívida às três instituições financeiras totaliza 962 milhões de euros.
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