“Neste momento estamos em mais de 20 países com o português integrado nos currículos de escolas públicas ao nível do secundário, por isso chegaremos sem grande esforço, daqui por quatro ou cinco anos, aos 30. Assim, passamos dos 15 que tínhamos em 2017 para 30″, afirmou, em entrevista à Lusa, o embaixador Luís Faro Ramos, que cumpriu este mês um ano de mandato como presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, afirmou, em setembro, que o Governo queria “a breve prazo” duplicar o número de países com o português como língua internacional de opção no ensino básico e secundário, passando para 40.
“Neste momento, o número de países em que que há português como língua estrangeira no ensino básico ou secundário é de 20 e o nosso objetivo é duplicar esse número a breve prazo”, disse Augusto Santos Silva, na apresentação pública da Rede de Ensino de Português no Estrangeiro (EPE), que decorreu na sede do Camões, em Lisboa.
Para Luís Faro Ramos, a meta estabelecida pelo executivo é “ambiciosa” mas “perfeitamente exequível” e ressalvou que “é evidente que isso implica um trabalho muito permanente por parte das estruturas que o Camões tem nos países”. No entanto, não implica esforço financeiro adicional da parte de Portugal, assegura.
“Quando estamos a falar em duplicar o número de países onde o português é ensinado a nível curricular, no ensino público, muitas vezes estamos a falar de um gasto de dinheiro zero, e isso é fantástico”, afirmou.
A iniciativa exige um envolvimento muito direto das autoridades locais, e quando isso acontece estas estão interessadas em financiar o ensino da língua.
Uma vez assumida pelo Estado recetor a importância da integração do português nos currículos das suas escolas públicas esse passa a ser um projeto do país em questão, explicou Faro Ramos.
O presidente do Camões tem, porém, a esperança que a meta estabelecida pelo executivo português seja vista “como importante pelos países, designadamente pelos do espaço ibero-americano”.
“Neste momento só temos cinco países do continente sul-americano onde o português faz parte dos currículos escolares e queremos ter mais. Aí há um esforço a fazer, mas isso, repito, não implica esforço financeiro adicional. Há é um esforço muito grande a fazer de persuasão das nossas embaixadas, das nossas redes de ensino, das nossas coordenações”, junto das entidades dos países, considerou.
“Costumamos dizer que o poder suave mais relevante que Portugal tem lá fora é o poder da língua. Portanto a meta de duplicar [o número de países com português como língua estrangeira no currículo do básico e secundário] é um caminho que será alcançado, porque todos os indicadores que temos nos fazem ser otimistas”, afirma.
Quanto ao objetivo de chegar a mais países da América do Sul, refere, é porque está consensualizado ao nível dos Estados da “ibero américa e de Portugal e Espanha, no caso do continente europeu, que todos os países da Conferência Ibero-Americana devem ter a outra língua também”.
Assim, Portugal e Brasil devem ter o espanhol e os que falam o espanhol, que são todos os outros, cerca de 20, devem ter o português [no ensino público].
“O caminho teórico está delineado, e agora o que temos é que ir lembrando a esses países a importância de assumirem também a língua portuguesa no seu currículo de ensino público”, referiu o diplomata.
Faro Ramos mencionou que das viagens que tem feito no último ano por vários daqueles países tem detetado o interesse dos mesmos no ensino da língua portuguesa, “umas vezes por causa de Portugal, outras vezes por causa do Brasil”, ressalvando: “Mas isto não é mal nenhum”.
Aliás, “no âmbito da promoção externa da língua portuguesa, Portugal deverá continuar sempre a contar com a colaboração do Brasil”, defendeu.
O exemplo de uma parceria importante entre o Brasil e Portugal ao nível da promoção da língua é aquela que foi criada e está a arrancar para o ensino do português na escola das Nações Unidas em Nova Iorque, referiu.
E pode haver outras: “Estamos a ver com o Brasil a possibilidade de entrarmos juntos noutros países”, admitiu.
“Não vejo o Brasil como um concorrente, vejo-o como um parceiro, sobretudo porque a nossa rede é extensa mas não chega ao mundo inteiro e há sinergias a explorar entre nós e o Brasil em países onde há interesse pela língua portuguesa”, comentou.
Sobre a possibilidade de, com a tomada de posse de um novo Governo no Brasil, liderado por Jair Bolsonaro, em janeiro, essa realidade se poder alterar, o embaixador e presidente do Instituto Camões não considera que isso venha a acontecer.
“Já tive vários contactos com colegas meus brasileiros do ministério, que tratam da cultura e da língua, e o que ouvi foi uma vontade de prosseguir com este caminho de aproximação que temos feito”, afirmou.
“Não tenho razão nenhuma para pensar que poderá haver algum tipo de descontinuidade em relação ao que temos feito com o Brasil com um novo Governo”, sustentou.
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