No colóquio “Políticas Científicas”, que decorre hoje na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, a antropóloga Susana Matos Viegas considerou que as grandes missões científicas definidas para programa de financiamento de investigação Horizonte Europa, entre as quais se incluem curar o cancro e conseguir maior qualidade de vida na velhice, são “ótimas para uma certa classe social” mas indiciam uma ciência orientada “para uma lógica de mercado”.
A investigadora considerou que a sua especialidade, as ciências sociais, “estão subjugadas a ser uma espécie de sub-área” do conhecimento científico.
Defendeu que é precisa “mais criatividade na política científica”, pondo em questão práticas como tudo no financiamento funcionar “na lógica do projeto” que dura três ou cinco anos, sabendo-se que muitas vezes “os resultados veem-se a sério depois de os projetos terminarem”.
O biólogo e diretor-adjunto de Ciência do Instituto Gulbenkian de Ciência, Élio Sucena, considerou também que as grandes missões para o Horizonte Europa são, em grande medida, “olhar para o umbigo enquanto europeus” e uma conceção pedestre e pobre da ciência.
Trata-se de objetivos, argumentou, que toda a sociedade subscreve, por isso escusados como orientações para o trabalho científico, que já se debruça sobre eles.
Reconheceu que é legítimo que a União Europeia queira controlar como se faz a investigação que financia com fundos europeus, mas defendeu que Portugal tem dinheiro do seu próprio orçamento de Estado que pode ser “usado para coisas mais criativas”, nem sempre na lógica do projeto.
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