Em entrevista à agência Lusa, Hélder Crespo, investigador e docente da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), contou que o "novo método" surgiu da necessidade de criar um laser que não "matasse" as células e que permitisse produzir imagens biomédicas de melhor resolução.

"Os lasers convencionais facilmente matam as células, não permitindo observar o seu comportamento nem, por exemplo, a evolução de um tratamento, uma vez que estas morrem devido à exposição a um laser intenso", apontou Hélder Crespo.

O estudo, intitulado 'SyncRGB-FLIM' e publicado recentemente na revista científica Biomedical Optics Express, estava a ser desenvolvido há mais de um ano por investigadores do Departamento de Física e Astronomia da FCUP, da spin-off Sphere Ultrafast Photonics e do INL - Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia, em Braga.

Com o objetivo de produzir imagens clínicas "facilmente observáveis" durante um período de tempo mais alargado, a equipa desenvolveu um laser que, com um "espetro extremamente largo" e um flash "muito rápido", permite "excitar" as células e fazê-las emitir sinais.

"Conseguimos fazer isso de forma eficiente e rápida, sem matar as células, com o laser a incidir na amostra”, disse, adiantando que essa incidência “faz com que as diferentes partes da célula emitam, ao mesmo tempo, a sua luz, cujas cores são diferentes".

À Lusa, a coautora do estudo Rosa Romero, acrescentou que através da emissão destes sinais, "qualquer célula pode ser vista dinamicamente" durante vários dias, sem que seja "danificada".

"Conseguimos ter imagens durante vários dias da mesma célula e perceber como é que, por exemplo, uma célula cancerígena vai evoluindo ou reage ao tratamento", frisou a presidente da spin-off Sphere Ultrafast Photonics.

Os investigadores, que já validaram a técnica recorrendo a células suínas e, consequentemente provaram a sua "eficiência", encontram-se agora a aplicar o método desenvolvido a um sistema "de grande relevância no contexto da terapia do cancro", onde acreditam que o "impacto vai ser forte" entre a comunidade biomédica.

Segundo Hélder Crespo, esta ferramenta, cuja submissão a patente foi entregue em abril de 2018, vai permitir "a quem está a fazer investigação em novos métodos terapêuticos de cancro poder ver como é que um método",

"É uma ferramenta que vai permitir aferir o comportamento de um método, porque muitas vezes ouvimos falar em efeitos secundários que só se conhecem a longo prazo. Aqui temos uma técnica que permite efetivamente ver como é que um tratamento funciona nomeadamente em termos presenciais e efeitos secundários ao nível celular", concluiu.