O estudo do grupo do Instituto Francis Crick, publicado hoje na revista Cell, identifica uma proteína que está presente no plasma sanguíneo e também é expelida por células cancerosas, a "gelsolina segregada", que interfere na resposta do sistema imunológico, bloqueando um recetor dentro das células dendríticas.
Uma parte crucial da resposta do sistema imunológico ao cancro é um grupo de células brancas do sangue, chamadas células T CD8 +, que matam as células tumorais.
Antes de lançar sua resposta antitumoral, essas células devem ser informadas sobre quem devem atacar por outra célula do sistema imunológico, chamada célula dendrítica.
Sem nenhuma instrução transmitida às células T, os tumores conseguem evitar a resposta do sistema imunológico.
A equipa do instituto localizado em Londres analisou dados clínicos e amostras de pacientes com 10 tipos diferentes de cancro e descobriu que indivíduos com cancro de fígado, cabeça e pescoço e estômago, que têm níveis mais baixos dessa proteína nos seus tumores, tinham maiores probabilidades de sobrevivência.
“A interação entre as células tumorais, o ambiente envolvente e o sistema imunológico é um quadro complexo. E embora as imunoterapias tenham revolucionado a forma como certos tipos de cancro são tratados, ainda há muito a perceber sobre quem tem maior probabilidade de beneficiar”, disse Caetano Reis e Sousa, autor e líder de grupo do Laboratório de Imunobiologia de Crick, num comunicado da instituição.
Este mecanismo era até agora desconhecido e abre novos caminhos para o desenvolvimento de medicamentos que aumentem o número de pacientes com diferentes tipos de cancro a beneficiar de imunoterapias.
O trabalho baseia-se na investigação do grupo liderado pelo português da equipa em biologia celular dendrítica e a forma como o sistema imunitário responde à presença de uma infeção ou ao desenvolvimento de um tumor.
Caetano Reis e Sousa nasceu em Lisboa, mas mudou-se para o Reino Unido em 1984, onde terminou os estudos secundários antes de estudar Biologia no Imperial College, em Londres, e um doutoramento em Imunologia em Oxford.
Em 2019 foi eleito membro da Royal Society, o primeiro português em 200 anos a entrar como ‘fellow’ para a academia de ciências britânica.
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