Em declarações aos jornalistas em reação ao 23.º Congresso do PS, que hoje terminou em Portimão, Rui Rio até considerou “natural” que o PS esteja preocupado com as autárquicas.

“O que já estranho e entendo que não é correto é utilizar o Governo e medidas do Governo para, muito perto das eleições, procurar captar votos para o PS”, criticou, em declarações num hotel em Albufeira.

O líder do PSD até reconheceu que António Costa anunciou “um conjunto de boas medidas” para captar eleitorado, destacando as ligadas ao apoio à infância, como o aumento de vagas em creches e a redução de IRS para as famílias com filhos.

“Porque é que é uma boa medida? Essa foi exatamente a primeira ideia que o PSD transmitiu em força desde que eu ocupo este cargo”, afirmou.

Rio, que tem criticado que o primeiro-ministro refira que o PSD não tem ideias, ironizou que os socialistas “começaram bem, começaram pelas primeiras”.

“Essa medida temos de aplaudir porque ela é nossa e o PS veio buscar a nossa ideia, tarde, mas apesar de tudo bem”, insistiu.

Por outro lado, Rio classificou como “medidas propagandísticas” o anúncio de mais habitação social e para os jovens, sublinhando que “o primeiro-ministro tem dito ter verba para construir 26 mil casas, já se comprometeu com 28 mil” e ainda só assinou protocolos com 78 municípios.

“Está a prometer uma coisa que não vai poder cumprir”, acusou, lamentando que não se tenha falado no Congresso sobre investimento e economia privada.

Rio admitiu ser “muito difícil” condenar o PS e António Costa pelo seu discurso: “O PS e o Governo não pecam no discurso, é sempre tudo fantástico, pecam é na ação”, disse.

Questionado se, como referiu o primeiro-ministro, está “irritado” por o PSD não estar totalmente unido, Rio disse não querer ser “hipócrita” e devolveu a crítica.

“É evidente que um partido que esteja pacificado e todos remem para o mesmo lado tem condições de governação e de afirmação mais fáceis do que um em que está em permanentes tumultos. Isso não impede um partido, e neste caso o PSD, a sua direção nacional de trabalhar, dar ideias e mostrar soluções para o país, independentemente da turbulência interna que possa haver. Eu seria hipócrita se agora dissesse que não há, claro que há”, admitiu.

No entanto, relativamente ao PS, Rio disse discordar da análise feita por António Costa.

“Eu não vejo a unidade e a paz, eu vejo o contrário, vejo um congresso em que no palco aconteceu uma coisa e nos bastidores a discussão permanente de quem vai suceder a António Costa”, afirmou, referindo que até houve a preocupação de colocar em lugar de destaque os potenciais sucessores do líder socialista.

“Não há também essa unidade, essa pacificação e esse foco no país e não no partido (…) Porventura, até há problemas mais graves [do que no PSD], porque são mais escondidos, e os nossos toda a gente vê”, disse, apontando situações em que nota “dificuldade” do PS em disciplinar o seu grupo parlamentar.

Questionado sobre qual pode ser a “linha de vitória” nas próximas autárquicas para ser recandidato à liderança do PSD, Rio reiterou que o seu “contrato de trabalho” de dois anos com o partido - desde o último Congresso - o obriga a fazer “o melhor possível” a principal tarefa deste mandato.

“A questão de fundo não é se continuo ou deixo de continuar líder do partido, não é. Tenho uma carreira profissional e política atrás de mim e uma forma de ser e de estar que já não muda nem quero mudar”, afirmou, assegurando que “a esmagadora maioria do partido está mobilizada” para as eleições de 26 de setembro.