A intenção de Washington foi transmitida por Andrew Peek, vice-secretário de Estado adjunto para assuntos do Oriente Próximo (que abrange as regiões do norte de África e do Médio Oriente) numa teleconferência realizada hoje, em que a Lusa participou, um dia depois do Presidente norte-americano, Donald Trump, ter anunciado a saída dos Estados Unidos do acordo nuclear e o restabelecimento de sanções económicas a Teerão.

O acordo nuclear foi assinado em 2015 entre o Irão e o grupo 5+1 (EUA, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha).

“Partilhamos as mesmas preocupações [em relação ao Irão], mas nem sempre acordamos nas abordagens. (…) Não concordamos em todos os assuntos a 100%, mas somos aliados e vamos continuar a trabalhar juntos para chegar a uma visão comum (…) e para ter um acordo mais compensador na mesa das negociações”, declarou o representante da diplomacia norte-americana, manifestando-se confiante de que Washington irá conseguir superar o desapontamento e a resistência manifestada pelos parceiros europeus de sair do atual acordo.

Andrew Peek frisou que tal situação será um processo em permanente desenvolvimento e que foram iniciados contactos e consultas sobre esta matéria – que irão prosseguir nos próximos tempos – para falar, explicar as ameaças e encorajar os aliados europeus a tomarem uma decisão, nomeadamente ao nível dos investimentos mantidos em território iraniano.

Sobre esse potencial novo acordo, o representante do Departamento de Estado destacou que a administração norte-americana quer ver “melhorias no comportamento do Irão não apenas na questão nuclear”, mas também em outras questões regionais.

Andrew Peek defendeu que a decisão assumida na terça-feira por Donald Trump tem como meta “ajudar os iranianos a interiorizar a ameaça que representa” a atual política de Teerão, acrescentando que Washington está confiante de que a reintrodução das sanções económicas vai forçar a República Islâmica a reiniciar negociações sobre o respetivo programa nuclear e sobre outras matérias militares.

“Estamos a tentar mudar o comportamento do regime e não estamos a tentar mudar o regime”, respondeu o vice-secretário de Estado adjunto, quando questionado diretamente sobre este assunto.

Especificamente sobre as sanções económicas, que tinham sido levantadas em parte após o acordo de 2015, o representante precisou que algumas serão aplicadas num prazo de 90 dias, enquanto outras entrarão em vigor num prazo mais extensível. O objetivo será dar tempo de reação aos aliados e parceiros que têm operações no terreno.

Andrew Peek esclareceu ainda que a administração não permitirá novos negócios entre empresas norte-americanas e o Irão nos próximos meses, à medida que as sanções serão restabelecidas.

Também admitiu que haverá o que intitulou de “sanções secundárias” que poderão prejudicar as empresas estrangeiras que têm negócios no Irão, afirmando que a administração Trump irá trabalhar com os governos dos países envolvidos sobre esta questão.

Sobre o papel de Israel, reconhecido opositor de Teerão e que se posicionou ao lado dos EUA neste dossiê, Andrew Peek escusou-se a aprofundar o assunto, afirmando apenas que a administração Trump e o governo israelita mantiveram estreitos contactos e coordenaram ações, especialmente nas últimas duas semanas.

Donald Trump anunciou na terça-feira que os Estados Unidos abandonavam o acordo nuclear assinado entre o Irão, que permitiu o levantamento de parte das sanções internacionais em troca do compromisso de Teerão de limitar o seu programa nuclear a fins civis.

Uma das justificações de Washington é a de que o acordo não é eficiente na vigilância das atividades nucleares do Irão.