Na noite de segunda-feira, o Pentágono disse que uma carta que anunciava a saída de forças militares do Iraque foi “um erro” e que se tratava apenas de “um rascunho, não assinado, que nunca deveria ter sido divulgado”, para justificar a divulgação dessa mensagem.

Hoje, o Governo iraquiano desmente a versão do Pentágono e assegura que recebeu uma carta “assinada” anunciando o plano de saída das forças norte-americanas do território iraquiano, na sequência da escalada de tensão no Médio Oriente, após um ataque norte-americano que na semana passada matou um alto comandante iraniano em Bagdad.

“Não é uma folha que caiu da fotocopiadora (…). Eles dizem agora que era um rascunho (…), mas poderiam ter enviado uma outra carta de esclarecimento”, dizes Adel Abdel Mahdi, rejeitando a ideia de que a missiva possa ter sido “um erro”.

“Trata-se de uma carta oficial com o ‘layout’ tradicional”, explicou o primeiro-ministro demissionário, numa reunião do Conselho de Ministros que foi transmitida pela televisão pública iraniana.

Mahdi acrescentou que uma primeira versão traduzida para árabe lhe tinha chegado, com erros que foram detetados e que depois foram corrigidos.

A carta, na sua versão, mencionava que os EUA respeitavam a “decisão soberana (do Irão) de ordenar a partida” das forças norte-americanas, numa alusão aos pedidos do parlamento iraniano para que os soldados dos Estados Unidos abandonassem o território.

Contudo, o Pentágono nega essa intenção e o secretário de Defesa norte-americano, Mark Esper, disse que os Estados Unidos vão realocar os seus soldados, mas não deixam o país.

“Nenhuma decisão foi tomada para deixar o Iraque. Ponto final”, disse Mark Esper, questionado sobre essa questão pelos jornalistas.

A carta em questão – a que a agência noticiosa France Presse teve acesso, em cópias em inglês e em árabe – anuncia um “reposicionamento das forças (…) para garantir que a retirada do Iraque seja realizada de forma segura e eficaz”, alegando que os voos noturnos de helicóptero se intensificaram, para atingir esse objetivo.

A agência France Presse confirmou que, a noite de hoje em Bagdad (tarde em Portugal), foi a quarta consecutiva em que se verificaram voos de helicóptero a baixa altitude sobre a capital iraquiana, na zona onde está localizada a embaixada dos EUA.

A tensão na região aumentou desde que o general Qassem Soleimani, comandante da força de elite iraniana Al-Quds, foi morto na sexta-feira num ataque aéreo contra o carro em que seguia, junto ao aeroporto internacional de Bagdade, ordenado pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

O ataque ocorreu três dias depois de um assalto inédito à embaixada norte-americana que durou dois dias e apenas terminou quando Trump anunciou o envio de mais 750 soldados para o Médio Oriente.

O Irão prometeu vingança e anunciou no domingo que deixará de respeitar os limites impostos pelo tratado nuclear assinado em 2015 com os cinco países com assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas — Rússia, França, Reino Unido, China e EUA — mais a Alemanha, e que visava restringir a capacidade iraniana de desenvolvimento de armas nucleares. Os Estados Unidos abandonaram o acordo em maio de 2018.

No Iraque, o parlamento aprovou uma resolução em que pede ao Governo para rasgar o acordo com os EUA, estabelecido em 2016, no qual Washington se compromete a ajudar na luta contra o grupo terrorista Estado Islâmico e que justifica a presença de cerca de 5.200 militares norte-americanos no território iraquiano.