
Isabel Bapalpeme tem agora 29 anos e mora no Barreiro. Tinha 15 quando vivia numa aldeia, na Guiné-Bissau, e teve tuberculose. Por não ter recebido o tratamento adequado, e tomado antibiótico, seguiram-se anos de tosse e febre. Agora, dos seus dois pulmões, o direito não funciona e o esquerdo funciona cada vez menos, pelo que até apenas para falar lhe falta fôlego, algo que a impede de se manter ativa – ir à missa, à biblioteca ou até dar uma volta ao quarteirão.
A sua história foi partilhada pelo jornal Expresso e gerou uma onda de solidariedade. Segundo conta a publicação, Isabel ainda só não abriu mão de estudar. Mora num 1.º andar sem elevador e acorda às 6h para ter tempo de apanhar o autocarro que a leva à escola às 9h, quando a paragem fica apenas ao fim da rua. Mas Isabel tem de descansar a cada passo.
Quando chegou a Portugal, em 2014, de urgência ao abrigo do programa de cooperação internacional para a saúde patrocinado pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Isabel, que mede 1,73m, tinha 27 quilos. Há quatro anos, começou a ser acompanhada pela equipa de transplantação do Hospital de Santa Marta.
“A Isabel tem o pulmão direito completamente destruído e tem o esquerdo com muitas sequelas. Tem uma função pulmonar muito comprometida. Precisa de oxigénio numa quantidade bastante grande, mas mesmo no máximo que o concentrador pode debitar, mantém a falta de ar. Mesmo com o oxigénio no máximo”, explicou ao Público a pneumologista Ana Cysneiros, a primeira pessoa a receber Isabel chegou a Portugal.
Segundo refere a publicação, Isabel está na lista ativa para um transplante pulmonar, mas a falta de apoio familiar - uma das condições fundamentais para aumentar a probabilidade de sucesso deste tipo de intervenção cirúrgica –, pode colocar tudo em risco. Há mais de quatro anos que a família e amigos tentam que a mãe de Isabel possa fazer a viagem para Portugal e apoiar a filha.
“Em 2018, enviei dois relatórios [para a embaixada de Portugal na Guiné-Bissau]: estes documentos têm uma parte clínica, mas são muito explícitos a dizer que ela está em lista de transplante e que precisa da mãe. Uma das condições para o transplante é ter um familiar de apoio. O primo da Isabel, apesar de ter sempre dito que está disposto a isso, trabalha a tempo inteiro. O ideal é ser a mãe e era isso que estava à espera. Em doentes que temos de Cabo Verde, por exemplo, isso nunca foi um problema. Ela não vê a mãe há oito anos, seria ideal que fosse ela”, resume Ana Cysneiros.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) disse à publicação que solicitou a averiguação dos motivos para a falta de resposta a estes relatórios enviados há quatro anos pelos profissionais de saúde que acompanham Isabel e informou que a mãe da jovem deverá comparecer esta segunda-feira na secção consular para tratar do visto. "Como no processo apresentado em 2019 para o pedido de visto Schengen não constava nem morada postal, nem endereço eletrónico, começou por ser difícil à Embaixada contactá-la”, informou o ministério ao Público.
A publicação refere ainda que Isabel vive com 204 euros mensais, de Rendimento Social de Inserção (RSI), e da Guiné-Bissau, que a deveria auxiliar financeiramente, não recebe qualquer verba, pelo que conta com a ajuda de um familiar para pagar a renda de 245 euros de um T1 no Barreiro.
A sua história gerou uma onda de solidariedade nas redes sociais, e Carmen Garcia, autora da página “Mãe Imperfeita”, divulgou um apelo para angariação de fundos por forma a cobrir a viagem da mãe de Isabel e dos dois irmãos menores, para que assim que, assim que consiga o visto, possa viajar para Portugal. Foram ainda asseguradas outras coisas para aumentar o conforto de Isabel e, assim, ajudar a facilitar o dia-a-dia.
“Quem entra na casa da Isabel vê só uma cadeira de cozinha. Não há mobília. O que nós fizemos foi angariar coisas que permitissem aumentar o conforto dela e facilitar a sua vida. Conseguimos um sofá-cama, uma mesa para a sala e cadeiras, uma estante para os livros – que, desde que a saúde piorou, passaram a ser a sua vida –, roupa para a cama, uma varinha mágica, um aspirador. Estas coisas vão ser entregues nos próximos dias. Acho que a parte da casa está resolvida, o fundamental agora é mesmo assegurar o visto para a mãe dela”, explica a enfermeira Carmen Garcia à publicação.
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