"Não quero sair de Wuhan", diz à agência Lusa Rui Severino, luso-australiano radicado há quatro anos em Wuhan, onde é treinador de cavalos de corrida. "Isto é um vírus, não é uma guerra", desdramatiza.

Severino podia ser retirado com o apoio das autoridades australianas ou portuguesas devido à sua dupla nacionalidade.

Camberra disse hoje que os australianos em Wuhan vão ser retirados para a Ilha Christmas, no Oceano Índico, onde permanecerão 14 dias em quarentena. Portugal está a cooperar com Bruxelas para retirar cerca de vinte portugueses, ao abrigo do mecanismo de solidariedade europeu.

Com cerca de onze milhões de habitantes, Wuhan foi colocada na semana passada sob uma quarentena de facto, com entradas e saídas interditas.

Severino vive a 20 quilómetros do centro da cidade, ao lado do local de trabalho. Apesar de admitir que as medidas limitam a sua rotina, forçando-o a ficar em casa e a racionar alimentos, garante sentir-se "seguro", face ao zelo adotado pelas autoridades e população locais.

"Vejo que houve uma grande resposta da população e de toda a gente em Wuhan e na China: estão a obedecer e a apoiar as medidas tomadas pelo Governo, nomeadamente a restrição de movimento", disse.

"O centro de treinos é bem controlado, em termos sanitários, todos temos um controlo rigoroso diário, à entrada e à saída", descreve.

Severino justifica a sua escolha ainda pela responsabilidade para com a sua equipa de trabalho e pela possibilidade de estar a pôr em perigo o país de destino, já que pode estar infetado com o vírus também.

As autoridades de saúde chinesas revelaram esta semana que os infetados com o novo coronavírus podem transmitir a doença durante o período de incubação, que demora entre um dia e duas semanas.

Durante aquele período, os infetados não revelam sintomas, o que anula o efeito das medidas de rastreio, como medição de temperatura nos aeroportos ou estações de comboio.

O luso-australiano critica ainda a ausência de prevenção nos países europeus ou Austrália, onde quem vem da China não tem sido submetido a controlo.

"Eu tenho filhos na Austrália e no regresso às aulas, muitas escolas públicas estão a admitir filhos de casais chineses que estiveram na China durante o último mês", contou.

A Austrália registou, até à data, cinco infeções pelo novo coronavírus e recomendou aos seus cidadãos que reconsiderem qualquer viagem à China.

A Comissão Nacional de Saúde da China anunciou hoje 5.974 casos confirmados de contaminação na China continental, mais 1.400 em relação a terça-feira, e elevaram o número de mortes para 132.

Casos de coronavírus foram ainda detetados nos Estados Unidos, França, Canadá, Singapura, Malásia, Tailândia, Japão, Vietname, Coreia do Sul e Nepal.