“Estamos muito preocupados. Este ano é mais uma machadada em cima de um setor que é altamente exportador e que tem uma vantagem que os outros setores exportadores não têm: a grande incorporação nacional, porque se se exporta um recurso natural renovável do país está a incorporar-se valor acrescentado nacional para vender e não a comprar uma matéria-prima para transformar e exportar”, afirmou o presidente da direção da AIMMP em declarações à agência Lusa.
Salientando que “nos últimos oito anos as exportações do setor aumentaram 800 milhões de euros, [a um ritmo de] 100 milhões de euros por ano”, e que “só a madeira e o mobiliário valem 2,4 mil milhões de euros” de vendas para o exterior, Vítor Poças assegurou que a madeira e o mobiliário “é, de todos os setores exportadores de Portugal, aquele que apresenta uma maior taxa de valor de incorporação nacional nas suas exportações”.
“Mas só podemos vender aquilo que temos. Portanto, se deixarmos de ter floresta, um dia destes não temos nada para vender”, alertou, afirmando que “a falta de matéria-prima já é notória, dado os incêndios dos últimos anos, em que ardem 100 mil hectares de floresta por ano”.
Segundo o dirigente associativo, “todos os anos as empresas vêm queixar-se de uma falha progressiva de matéria-prima para processar” e, se o setor do mobiliário “tem feito alguns milagres, designadamente recorrendo menos à fabricação de móveis em madeira maciça e mais com base nos aglomerados e painéis”, setores como o das serrações não têm alternativas.
“Começa a assistir-se a uma redução drástica das exportações das serrações de madeira ( menos 9% até junho), que são quem está na cabeça do pelotão para levar com a maior pancada provocada pelos incêndios, porque dependem direta e indiretamente da floresta”, afirmou Vítor Poças.
É que, ironizou, se “as carpintarias e o mobiliário podem passar a depender mais dos painéis, dos aglomerados e de outro tipo de produtos que incorporam na fabricação dos seus produtos, as serrações não vão serrar plástico nem vidro e dependem direta e exclusivamente da floresta”.
De acordo com o responsável, em causa estão essencialmente as reservas nacionais de pinho, do qual “vive muito” a indústria portuguesa de madeira e mobiliário, mas também o eucalipto, o carvalho, a nogueira e o castanheiro, “que são madeiras nobres que se utilizam muito no setor”.
“Mas o pinho é a base fundamental para a produção de painéis, por exemplo, e quanto mais indústria primária, de primeira transformação, houver, designadamente as serrações, mais sobrantes se libertam para a partir deles fazer os painéis”, sustentou.
Afirmando ser “desesperante ver a floresta a desaparecer”, o presidente da AIMMP destaca “o quanto vale” este recurso em Portugal e alerta para o grave impacto acumulado que o seu desaparecimento pode vir a ter na fileira da madeira e mobiliário, que, no primeiro semestre deste ano, exportou quase 1.198 milhões de euros, mais 3% do que no período homólogo de 2016.
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