"Ou esse juiz [Alexandre de Moraes] se enquadra ou ele pede para sair. Não se pode admitir que uma pessoa apenas, um homem apenas turve a nossa liberdade. Dizer a esse juiz que ele tem tempo ainda para se redimir, tem tempo ainda de arquivar seus inquéritos. Sai, Alexandre de Moraes. Deixa de ser canalha. Deixa de oprimir o povo brasileiro, deixe de censurar o povo", disse, num discurso perante milhares de apoiantes em São Paulo.

"Nós devemos sim, porque eu falo em nome de vocês, determinar que todos os presos políticos sejam postos em liberdade. Alexandre de Moraes, este Presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou", acrescentou o mandatário na Avenida Paulista, onde compareceu nos protestos organizados pelos seus apoiantes para este 07 de setembro, data comemorativa da Independência do Brasil.

Moraes foi o responsável por decisões recentes contra 'bolsonaristas' que organizavam atos antidemocráticas e difundiam 'fake news'. Contudo, o magistrado tem atuado a partir de pedidos da própria Procuradoria-Geral da República, sob o comando de Augusto Aras, indicado para o cargo por Bolsonaro, e da Polícia Federal.

"Não vamos mais admitir que pessoas como Alexandre de Moraes continuem a açoitar a nossa democracia e desrespeitar a nossa Constituição. Ele teve todas as oportunidades de agir com respeito a todos nós, mas não agiu dessa maneira, como continua a não agir", acusou.

Horas antes, em Brasília, o chefe de Estado discursou para milhares de pessoas que se concentraram na Esplanada dos Ministérios, num discurso repleto de ameaças aos juízes do STF. Bolsonaro já tinha, porém, avisado que as suas declarações em São Paulo seriam mais incisivas.

Numa manifesta intenção de concorrer novamente à Presidência do Brasil, em 2022, Bolsonaro afirmou que só deixa o poder "preso, morto ou com a vitória", para logo em seguida declarar que "nunca será preso".

"Nesse momento, eu quero mais uma vez agradecer a todos vocês. Agradecer a Deus, pela minha vida e pela missão, e dizer àqueles que me querem tornar inelegível em Brasília que só Deus me tira de lá. Só saio preso, morto ou com a vitoria, mas quero dizer aos canalhas que nunca serei preso", frisou.

O discurso de Bolsonaro voltou a ser direcionado para o voto impresso, modalidade que o chefe de Estado acusa, sem provas, de ser alvo de fraudes e a qual defende amplamente, em substituição da atual urna eletrónica, que oferece resposta no mesmo dia e que é usado há mais de 20 anos no Brasil.

“Nós queremos eleições limpas, democráticas, com voto auditável e contagem pública de votos. (...) Não posso participar de uma farsa patrocinada pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral”, afirmou, em referência ao juiz Luís Roberto Barroso, presidente do órgão máximo da Justiça Eleitoral brasileira.

Bolsonaro também criticou governadores e prefeitos devido às medidas adotadas durante a pandemia, em relação às quais sempre se mostrou contra.

“Vocês passaram momentos difíceis com o vírus, mas pior do que a pandemia foram as ações de alguns governadores e prefeitos, que ignoraram a nossa Constituição. Proibiram vocês de trabalhar e frequentar templos e igrejas para a sua oração. A indignação de vocês foi crescendo”, afirmou diante de uma plateia com muitos apoiantes sem máscaras de proteção contra a covid-19.

No dia comemorativo da Independência do Brasil, milhares de 'bolsonaristas' saíram às ruas de todo o país, atacando o Supremo e o Congresso, pedindo Liberdade de expressão e religiosa e uma intervenção militar no país, que mantenha Bolsonaro no poder para "livrar o país de uma ditadura".

Já o vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, com quem Bolsonaro se tem desentendido nos últimos tempos, usou as redes sociais para exaltar a “democracia plena” do país.

“Em 7 Set 1822, o Brasil declarou sua Independência e cresce a cada dia, cuidando do seu bem maior: o brasileiro. Somos um país jovem e uma democracia plena, fruto das lutas dos nossos antepassados. Sigamos em frente, honrando o legado de liberdade e respeitando nosso povo”, escreveu no Twitter.

Manifestação contra Presidente brasileiro junta uma centena em Lisboa

Cerca de cem pessoas manifestaram-se hoje, em Lisboa, contra Jair Bolsonaro, acusando-o de ser um “genocida” e de ser responsável pela morte de mais de 500 mil pessoas.

Os manifestantes gritaram “fora Bolsonaro” e empunhavam bandeiras do Brasil e cartazes contra o chefe de Estado brasileiro – incluindo alguns que o apelidavam de “genocida”.

Em declarações à Lusa, Pedro Prola, do Núcleo de Lisboa do Partido dos Trabalhadores (PT), apontou que a manifestação se realizou no âmbito da iniciativa Grito dos Excluídos.

“Estamos aqui no âmbito de uma iniciativa que acontece no Brasil todos os anos, que é o grito dos excluídos e excluídas”, disse, apontando que, este ano, está “associado ao ‘Fora Bolsonaro’ devido aos crimes que o Governo de Bolsonaro está a cometer contra o Brasil e a fome que já afeta mais de 19 milhões de pessoas e os quase 600.000 mortos provocados pela covid-19”.

Pedro Prola assinalou ainda que estas iniciativas fora do Brasil, pretendem “trazer a solidariedade internacional em defesa da democracia” brasileira, apontando que a iniciativa contou com representantes do Partido Comunista Português (PCP), do Bloco de Esquerda (BE) e da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses - Intersindical Nacional (CGTP-IN).

“Olhamos para o que se está a passar no Brasil com uma certeza: o que está a acontecer no Brasil é absolutamente terrível (…) e é preciso reverter esse processo”, rematou.

Stefani Costa, do Coletivo Revolu, apontou que o que se passa no Brasil “serve também como exemplo para a população portuguesa”, dizendo que Portugal “também sofre com o crescimento da extrema direita”.

“A nossa preocupação neste momento é o andamento deste Governo”, afirmou, lamentando a elevada presença de militares no executivo brasileiro.

“O Bolsonaro perdeu popularidade, ele já perdeu as ruas. O que se vê são pessoas totalmente fanatizadas”, concluiu.

A manifestação, que se realizou na Praça Dom Pedro IV, contou ainda com mensagens de apoio ao antigo Presidente brasileiro Lula da Silva.

Milhares de pessoas manifestaram-se hoje a favor em várias cidades brasileiras – incluindo São Paulo e Brasília – contra o Governo de Bolsonaro.

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