O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, afirmou hoje que Washington está pronto a pressionar a Rússia nas futuras conversações para resolver a guerra na Ucrânia, antes de se encontrar com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na Alemanha.
JD Vance também garantiu aos europeus ser “claro” que têm um lugar à mesa em quaisquer negociações para pôr fim às hostilidades, mas que precisam de assumir mais responsabilidades no seio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) para “partilhar o fardo” da defesa do continente.
A primeira conversa telefónica entre Donald Trump e o homólogo russo, Vladimir Putin, e a vontade declarada de forçar negociações imediatas sobre a Ucrânia levaram Kiev e os europeus a recear que o conflito fosse resolvido em seu detrimento.
Na Conferência de Segurança de Munique (MSC), a reunião anual da elite diplomática, que começou hoje, o discurso do vice-presidente norte-americano, ao início da tarde, será analisado com atenção.
Retirada de militares norte-americanos da Europa
Vance poderá anunciar que “uma grande parte das tropas norte-americanas será retirada da Europa”, admitiu hoje o diplomata alemão Christoph Heusgen, que preside à MSC, o que poderá ser um golpe para a segurança do continente.
“É altura de investir, porque não se pode assumir que a presença norte-americana vai durar para sempre”, avisou hoje de manhã o chefe do Pentágono, Pete Hegseth, a partir de Varsóvia.
À entrada da conferência, o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, lembrou que os europeus não podem substituir militarmente os norte-americanos de um dia para o outro, adiantando, porém, ter apresentado uma “proposta para um roteiro” nesse sentido.
Zelensky deverá encontrar-se com Vance em Munique, numa tentativa de fazer valer o seu peso nas discussões, numa altura em que a situação militar na frente continua a deteriorar-se. O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Marco Rubio, também deverá estar presente.
Zelensky tranquilizado
As declarações de Vance ao Wall Street Journal parecem ter tranquilizado o Presidente ucraniano.
Os Estados Unidos terão em conta “a independência soberana da Ucrânia” nas próximas negociações, disse o ‘número dois’ norte-americano.
“Para pressionar a Rússia, “há os meios de pressão económica”, mas “há evidentemente os meios de pressão militar”, acrescentou.
Com estas declarações, Vance enviou um “sinal forte” a Moscovo, segundo Zelensky.
Pouco antes da chegada a Munique, Zelensky acusou a Rússia de ter utilizado um ‘drone’ para atacar “o recinto que protege o mundo das radiações no reator n.º 4 da central nuclear de Chernobyl”, provocando um incêndio que foi “extinto”.
“O nível de radiação não aumentou”, acrescentou.
O ataque a Chernobyl demonstra que a Rússia “não quer a paz”, de acordo com a chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Kaja Kallas.
Preocupação de europeus e de ucranianos
Depois das ondas de choque causadas pelo telefonema com Trump, que colocou Putin de novo em pé de igualdade com os Estados Unidos, a estratégia de negociação de Washington está a preocupar europeus e ucranianos.
Kiev exige uma “paz justa” e garantias de segurança por parte dos europeus e americanos, incluindo o envio de tropas para garantir a paz.
A Rússia, por seu lado, quer anexar os territórios que ocupa, mas também atacar as “raízes” do conflito, ou seja, a presença da NATO nas suas fronteiras.
Medo de capitulação
Zelensky exige que os Estados Unidos, que têm sido o principal apoiante militar do país desde o início da guerra, falem primeiro com a Ucrânia.
A Ucrânia vai negociar com a Rússia quando Kiev, Washington e os seus aliados tiverem uma posição comum, disse hoje o presidente ucraniano, observando que Trump não tinha um “plano pronto” para acabar com a guerra.
Os ucranianos excluíram a possibilidade de conversações em Munique com responsáveis russos.
A Rússia disse que não teria representantes na conferência para falar sobre a Ucrânia, ao contrário do que Trump tinha dito quinta-feira.
Adesão à NATO é irrealista, segundo EUA
As últimas declarações de Washington sobre o futuro da Ucrânia estão muito longe das aspirações de Kiev.
Os Estados Unidos estão agora a insistir no facto de que a adesão da Ucrânia à NATO é irrealista, tal como o regresso do país às suas fronteiras anteriores a 2014, ou seja, à Crimeia, anexada nesse ano por Moscovo.
Os aliados da Ucrânia receiam que a nova administração norte-americana “ceda tudo” à Rússia.
“Uma paz que seja uma capitulação” será ‘uma má notícia para todos’, avisou o Presidente francês, Emmanuel Macron, numa entrevista ao Financial Times.
A chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas, estabeleceu um paralelo entre a atual crise e a de 1938, quando o Acordo de Munique levou à anexação de parte da Checoslováquia pela Alemanha de Adolf Hitler.
*Com Lusa
Comentários