Ao discursar no comício de apresentação de candidatos da CDU à Câmara de Vila Real de Santo António, no Algarve, Jerónimo de Sousa disse que o país tem assistido a “décadas de uma desastrosa política” que provocou “cavadas assimetrias regionais”, a “desertificação do território interior” e o “abandono do mundo rural e das suas atividades”.
Para o dirigente do PCP, estes problemas têm sido o “pano de fundo onde assenta a tragédia a que o país assistiu nestes últimos dias com os fogos florestais” e que se traduziram na “destruição da pequena e média agricultura”, e no “desaparecimento de muitos milhares de explorações familiares, com um papel único na ocupação do território”.
“Não nos venham dizer que somos todos culpados. Se muito do que temos insistido ao longo de anos, sem ser ouvidos, fosse tido em conta, provavelmente a dimensão da catástrofe tivesse sido evitada”, afirmou o secretário-geral comunista.
Os incêndios que deflagraram há uma semana, nos concelhos de Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, e Góis, no distrito de Coimbra, provocaram 64 mortos e mais de 200 feridos, e obrigaram à evacuação de dezenas de aldeias.
Jerónimo de Sousa advertiu que “o diagnóstico está feito” e pediu aos restantes partidos que “não venham pedir mais comissões, mais estudos”.
“Há páginas e páginas de teorias e de análises. O que falta então? Falta enfrentar os constrangimentos que levaram às vulnerabilidades estruturais, no plano do ordenamento, dos serviços, de energia, dos meios, que ficaram brutalmente expostos com os dramáticos acontecimentos dos últimos dias”, defendeu.
O secretário-geral do PCP defendeu a necessidade de se “romper com a política de direita e com os ditames da União Europeia”, que considerou estarem “na origem dessas vulnerabilidades”.
“Mais do que procurar responsáveis, que estão identificados há muito nos sucessivos governos das últimas décadas, falta enfrentar as promíscuas relações com os interesses económicos que se movimentam nestas áreas, e que comprometem ações e iniciativas”, acrescentou.
Jerónimo de Sousa considerou ainda que o ordenamento da floresta e a aposta em espécies autóctones “esbarra com os interesses da indústria da madeira e das celuloses” e é “uma ilusão” ou “mesmo um logro” dizer que “a chamada Reforma da Floresta é a varinha mágica para tapar o essencial”, como “a falta de investimento, as políticas de restrição orçamental, o desmantelamento das estruturas e serviços do Ministério da Agricultura, a desvalorização do preço da madeira”.
O atraso na criação de equipas de sapadores florestais por razões orçamentais ou a extinção, em 2006, do Corpo de Guardas Florestais foram exemplos que Jerónimo de Sousa disse terem contribuído para os problemas atuais.
“O PCP não sairá da primeira linha dos que exigirão que seja dada resposta imediata aos que perderam pessoas, bens e economias. Como não deixará de contribuir para atacar as causas mais fundas do problema, encontrar respostas de curto prazo, exigir que entre comissões de inquérito e polémicas estéreis não se fuja ao que tem de ser feito e há décadas não é feito”, garantiu.
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