Nesta história, coube a Jerónimo uma declaração-chave da noite eleitoral de 06 de outubro de 2015, quando PSD e CDS ganharam as eleições, mas a esquerda ficou em maioria no parlamento, ao dizer: "Com este quadro, o PS tem condições para formar Governo, mas têm de perguntar ao PS.”
Seguiu-se um mês de negociações com António Costa para estabelecer a inédita e histórica posição bilateral conjunta, à semelhança de BE e “Os Verdes”, a denominada “geringonça”, a que os comunistas chamavam a “nova fase da vida política nacional”. Durou quatro anos (uma legislatura inteira), tempo em que o PCP não escondeu as suas divergências com o PS, apesar de ter viabilizado quatro orçamentos do estado.
Mas nestes 16 anos de liderança, se houve êxitos (ser o terceiro partido mais votado nas eleições gerais de 2005), também registou fracassos.
Em termos eleitorais, as últimas legislativas, em 2019, ditaram o pior resultado de sempre em percentagem e votos para a Coligação Democrática Unitária (CDU), recuando para os mesmos 12 deputados de 2002.
E nas autárquicas, em 2017, a coligação dos comunistas perdeu votos e dez câmaras municipais, incluindo a emblemática Almada (Setúbal), para o PS. Nas europeias, de novo “um recuo”, como se lhe referem os comunistas: 6,8% com João Ferreira, que agora é candidato às presidenciais de 24 de janeiro de 2021.
As legislativas, em que a CDU caiu de 17 para 12 deputados, com menos dois pontos percentuais do que em 2015, passaram a “velha” a “nova fase da vida política nacional”, como os comunistas chamam ao período da “geringonça”.
O PS não quis acordo, apesar da maioria de esquerda no parlamento, mas o PCP e Jerónimo foram pondo distâncias aos socialistas.
A pandemia de covid-19, declarada em março, abriu uma crise sanitária e “fechou” o país por várias semanas e, depois de dois meses de tréguas políticas, da direita à esquerda, a crise social e económica voltou a abrir divergências entre os dois ex-parceiros com o voto contra da bancada do PCP no Orçamento Suplementar, viabilizado pela abstenção do PSD. E foi isso que Jerónimo admitiu numa entrevista à Lusa, embora tenha negociado o apoio ao orçamento de 2021 com o PS e o Governo.
Antigo afinador de máquinas numa empresa metalúrgica e dirigente sindical, Jerónimo Carvalho de Sousa, nasceu em 13 de abril de 1947, criado pela mãe biológica, Olímpia Jorge Carvalho, e seu marido António de Sousa. Sempre viveu em Pirescôxe, Santa Iria de Azóia, Loures.
Batizado pela Igreja Católica e com o quarto ano do antigo curso industrial, ao mesmo tempo que trabalhava (desde os 14 anos de idade), após ser um dos mais assíduos às passagens da carrinha-biblioteca da Fundação Calouste Gulbenkian, Jerónimo casou-se aos 19 anos com Ovídia e é pai de duas filhas, Marília e Lina.
O futuro líder comunista ajudou a fundar e dirigir Associação Cultural e Desportiva local em Pirescôxe e ainda hoje exerce o seu direito de voto, sob numerosos lentes e flashes, no Grupo Desportivo da terra, aproveitando para jogar às cartas e conviver com velhos amigos dos tempos de teatro e dança na coletividade 1.º de Agosto de Santa Iria.
Entre 1969 e 1971, o secretário-geral do PCP, benfiquista e fã da banda inglesa The Beatles, cumpriu o serviço militar, com uma incursão ao difícil cenário da guerra colonial na Guiné-Bissau.
Logo em 1975, um ano depois de ter aderido ao PCP, foi eleito deputado à Assembleia Constituinte e continua, hoje em dia, como deputado na Assembleia da República. Dos primeiros tempos em São Bento, recorda como dava uma visão “do mundo do trabalho” a quem escrevia a Constituição.
Jerónimo foi eleito para o Comité Central do PCP no IX Congresso Nacional (1979) e integrou a Comissão Política comunista desde o XIV Congresso (1992).
Candidato à Presidência da República em 1996 e 2006, foi eleito líder comunista no XVII Congresso Nacional (2004), em Almada, sucedendo a Carvalhas, o escolhido para substituir o histórico Álvaro Cunhal, em 1992.
Os comunistas já o reelegeram três vezes, em 2008 (Lisboa) e 2012 (em Almada) e 2016 (Lisboa), antes da consagração de hoje, cenário que esteve em dúvida durante o último ano.
Se em 2019, numa entrevista à Lusa, admitiu pode sair, neste congresso, pelas “leis da vida”, há pouco menos de uma semana pôs a hipótese contrária: “Pelas leis da vida, eu tenho-me aguentado bem”. Com um sorriso.
E afirmou que ainda não tem vontade de para escrever um livro de memórias: “Continuo a pensar que meu futuro, seja como secretário-geral seja membro do comité central ou militante, o meu futuro é ainda a olhar para frente. Continuo com mais projeto do que memória”, afirmou na entrevista à Lusa, uma semana antes do congresso.
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