Mais de 5.000 casas de banho e dezenas de tendas de assistência médica vão ser instaladas no terreno que está a ser preparado para acolher a Jornada Mundial da Juventude, na qual são esperadas 1,5 milhões de pessoas.
Em entrevista à agência Lusa durante uma visita, em Loures, ao terreno onde decorrem trabalhos, o coordenador escolhido pelo Governo para a Jornada, José Sá Fernandes, contou que uma das fases mais empolgantes dos trabalhos recentes foi o teste de luz feito à noite na parte ribeirinha de Loures, onde não há infraestruturas.
“Fizemos aqui uma coisa muito bonita. Bonita porque foi engraçado. Tivemos de vir aqui à noite fazer o teste de luz. Isto não tem luz, não tem infraestrutura nenhuma”, contou Sá Fernandes.
Está previsto que os peregrinos possam pernoitar naquele local, embora sem tendas. Ainda assim, José Sá Fernandes, o advogado que ganhou fama de arquiteto, garante um cenário “maravilhoso”. Com o Tejo ao fundo e o Trancão à frente.
A energia será assegurada com recurso a geradores. “A iluminação são torres grandes e depois os próprios ecrãs têm uma estrutura de projetores para iluminarem. Aqui não há rede elétrica, há uma rede elétrica pequena, mas não para esta potência”, explicou.
“Foi uma coisa que também nos calhou, fazer os ecrãs para as pessoas verem, porque ali ao fundo não vão ver o palco”, apontou.
O terreno do designado Parque Tejo – Trancão tem quase 100 hectares, praticamente o dobro da área do Estado do Vaticano (44 hectares).
Decorrem agora esforços para montar ecrãs, som e luz, acrescentou Sá Fernandes, indicando alguns valores das adjudicações: seis milhões de euros para ecrãs, luz e som e 2,2 milhões para casas de banho.
“Estamos a tentar reduzir todos os custos previsíveis, na altura previsíveis pela Câmara de Lisboa. E de facto, estou satisfeito, porque temos conseguido bons resultados nessa matéria”, considerou.
As instalações sanitárias serão distribuídas pelo recinto, em Lisboa e em Loures, junto a caminhos, por forma a “não taparem a vista” e a não terem um grande impacto visual.
Encomendadas estão também as tendas de assistência médica. “Ainda há uma dúvida se vão ser 60 ou 70, mas já adjudicámos esse concurso, quer aqui, quer para Belém. Há várias obras, vários equipamentos”, referiu, remetendo para a Câmara Municipal de Lisboa as questões relacionadas com o altar palco.
De acordo com Sá Fernandes, as tendas de socorro serão controladas pelo Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e haverá também voluntários envolvidos no apoio aos peregrinos, entre médicos e enfermeiros. “Mas a supervisão é da parte do Ministério da Saúde, da Direção Geral da Saúde, do INEM também”, disse.
Num terreno quase descampado, de onde se removeram centenas de contentores, as sombras são escassas e reduzidas. Pequenas árvores e arbustos foram deixados, numa área aplanada, na qual foi feita uma intervenção “minimalista”, sem a criação de abrigos ou áreas de repouso.
“O que é extraordinário nisto é que nada disto as pessoas podiam pisar. E agora vão poder pisar, porque vão ficar com caminhos”, afirmou, ao mostrar o local, que será posteriormente alvo de requalificação para recuperar o sapal ali existente e para dar novo uso à área em que se encontravam os contentores: “Agora é para as pessoas estarem sentadas e deitadas e verem o evento, mas depois tem de ter uma grande intervenção paisagística, claro!”.
“Não vai ter sombras, nem áreas de estar, nem de repouso, isto é um terreno amplo, onde as pessoas vão pernoitar. Esperemos que esteja uma brisa, estamos ao pé do rio. A missa de domingo está prevista para as 09:00, portanto é cedo, e vamos tentar que as pessoas não estejam aqui nas alturas de maior calor”, assumiu. O evento realiza-se na primeira semana de agosto.
Levar água potável até àquela zona é outro desafio. “Isto não tem água, mas vai ter água. Lisboa nesse aspeto está mais bem preparada, porque tem infraestruturas melhores do que aqui em Loures, que não tinha nada. Nem água, nem luz, nem esgoto. Portanto, temos de ter aqui medidas diferentes, mas acho que estamos a conseguir fazer as coisas”, disse.
Segundo o coordenador, haverá vários ‘aguadeiros’ para servir água às pessoas, mas também várias torneiras para as pessoas “encherem o cantil”.
O Papa Francisco, referiu, vai visitar o recinto, dando uma volta pelo local. Os peregrinos não poderão passar além do passadiço para a zona do sapal, nas margens do Trancão.
Será possível atravessar o rio que separa os dois municípios através de uma ponte pedonal e ciclável, anteriormente projetada, e agora ligada a um passadiço de madeira. Nesta zona decorrem trabalhos a cargo da EMEL – Empresa de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa.
“A ponte, que é um orgulho, foi lançada ainda na altura em que eu era vereador (na Câmara de Lisboa). Era um dos sonhos, ligar os dois concelhos, uma obra do arquiteto António Braga, que ainda trabalha comigo e está quase pronta”, declarou.
A retirada dos contentores, num dos terrenos intervencionados, libertou uma área de 35 hectares.
“É uma área gigante, portanto é um ganho, agora está Loures em obra, a fazer um trabalho espetacular, como se vê, e já muito adiantado, de alisamento do terreno e de abrir os caminhos para recebermos aqui os peregrinos”, demonstrou o coordenador.
Para José Sá Fernandes, que assumiu a articulação de várias entidades envolvidas numa operação que envolve largos milhares de peregrinos, a “maior alegria” é que para o futuro ficará o caminho aberto para um projeto paisagístico que possibilitará às 120.000 pessoas que vivem em Loures terem acesso ao rio, além de um aterro em Lisboa “a virar um jardim”.
Questionado sobre os principais desafios e dificuldades da empreitada em curso, considerou que é como montar um puzzle, juntar as peças para que nada falhe.
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