Todos os dias nascem e morrem projetos de media. Todos os dias, em todo o mundo. Portugal não é excepção. Esta semana foi anunciado o encerramento de um projeto de media e de tecnologia que tinha sido particularmente bem recebido pelo mercado aquando do seu lançamento, em 2011. O niiws, uma aplicação agregadora de fontes de informação, que a partir de dia 30 de setembro deixa de estar disponível. João Martins, fundador do projeto, faz um breve resumo do desfecho: “Sabíamos que o niiws não podia ter sucesso sem o apoio dos media. Por cá nunca o quiseram fazer, estavam mais preocupados com a sua própria sobrevivência”.

O niiws foi um dos projetos novos de media que o mercado recebeu com bastante entusiasmo e que agora chega ao fim. O que correu mal ou o que é que não correu bem?

João Martins - Sabíamos que o niiws não podia ter sucesso sem o apoio dos media. Por cá nunca o quiseram fazer, estavam mais preocupados com a sua própria sobrevivência e sem coragem de investir numa fórmula nova vinda de uma equipa pequena. Da nossa parte faltou-nos talvez a capacidade de mostrar mais além, mas um projeto que reunia todos os concorrentes não era sequer o mais desejado.

Há falta de investidores para propostas de media como a niiws ou outras?
J.M.
- Não sei se há falta de investidores mas parece-me que a indústria ainda acredita que 1980 vai voltar.

Acreditas na publicidade como forma de rentabilizar media nos dias de hoje, nomeadamente nos novos formatos?

J.M. - Não estou certo. Que é o mais fácil, é. Com os equipamentos com que se leem notícias hoje ainda mais espetacular será. Mas preferia ver a excelência dos conteúdos ser a maior razão da sua existência e rentabilidade.

Como se conta a história do niiws ?

J.M. - O niiiws surgiu por uma necessidade pessoal de ter o melhor da imprensa jornalística escrita e diária num só sítio. Depois foi trabalho e dedicação, fizemos uma app linda, estupidamente fácil de usar e tecnicamente arrojada. Sem apoios chegámos rápido aos mais de 100 mil downloads e ainda tínhamos ontem cerca de 10 mil utilizadores diários. Preparámos o conceito e a nossa fórmula de rentabilização: queríamos ser o quiosque digital onde os conteúdos seriam pagos individualmente. Ninguém acreditou.

Todo o investimento ficou a nosso cargo, a nível pessoal e financeiro. Cedo chegámos a um ponto em que tudo estava automatizado. Mas queríamos mais, melhor, updates sempre atualíssimos e acima de tudo testar o modelo de negócio. Não deu.

Há muito sabíamos que não podíamos continuar a arcar com o projeto sem apoios nem horizonte, só os custos de processamento de informação eram bastante elevados. Não encerrámos antes porque tínhamos muitos utilizadores diários, foi por eles todo o esforço, é deles que vamos sentir falta.

Há um espírito de colaboração no universo dos media e da tecnologia ou é ainda um espaço de marcas individualizadas e sem grande foco colaborativo?

J.M. - É um mercado competitivo. Entendem-se quanto à distribuição porque convém a todos, o resto é cada um por si. Até há uns que acreditam que vão fazer um algoritmo para bater naquele maldito Google.

O que mostrou a experiência do niiws? Como é que as pessoas hoje consomem media e o que privilegiam?

J.M. - As pessoas querem o óbvio e o de simples acesso. Dê-se algo bom, com bom aspeto e saboroso que todos gostam. Pelos vistos é o Facebook que está a ganhar a corrida, qualquer dia processam-no.

A língua portuguesa é uma barreira ou uma oportunidade?

J. M. - Para nós foi uma oportunidade, não vimos mais nenhum projeto que pudesse trabalhar tão bem em qualquer idioma. Fazermos o niiiws de raiz em português foi uma vantagem interessante.

Depois do niiws, o que vão fazer?

J.M. - Por mais que gostemos muito de trabalhar uns com os outros, e essa foi outra razão para só agora encerrarmos o niiiws, cada um vai seguir o seu caminho até nos encontrarmos outra vez um bocado mais à frente. Para já vamos marcar um jantar mensal para nos irmos vendo e rindo.