Jorge Sampaio apresentou hoje no Museu do Aljube, em Lisboa, o livro “Cadeia do Forte de Peniche”, de Carlos Brito, que ali esteve preso de fevereiro de 1960 a agosto de 1966, durante a ditadura de António Oliveira Salazar.

Referindo que abriu uma exceção nas suas intervenções públicas ao decidir apresentar o livro de Carlos Brito, Sampaio justificou-a com a “oportunidade da matéria” por se viverem atualmente na Europa e no mundo “perigosas afirmações de populismos impensáveis”, que não nomeou.

Jorge Sampaio, 77 anos, foi defensor de presos políticos e afirmou hoje que “o único destino possível [do forte e antiga cadeia de Peniche] será transformá-lo num museu nacional de resistência”.

“É um lugar central de memória coletiva e não para conversão em propósitos utilitaristas”, sustentou, mostrando-se contra a eventual exploração do local para fins privados.

O antigo chefe de Estado (1996/2006) concretizou que o local deverá ser um centro de interpretação da história da democracia com várias atividades que possam atrair novos públicos para a história das ideias políticas.

“Todos devem ser parceiros”, apelou, referindo também entidades internacionais como a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) ou o Conselho da Europa.

“Aquilo que existe hoje é uma coisa triste, é preciso muito investimento e é preciso uma participação mais generalizada. Peniche não pode ser uma recordação para uma minoria, tem que ser uma coisa que diga respeito aos portugueses”, disse no final numa curta declaração aos jornalistas.

“Peniche hoje é conhecido pelas ondas, pode acumular as ondas com aquilo que é a memória dos tempos de ditadura que deve ser conhecida e explicada”, finalizou.

O Governo está a estudar com a Câmara de Peniche e com historiadores um plano para construção de um memorial da luta democrática, disse à Lusa o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, que também esteve presente na apresentação livro.

“Não temos ainda um plano desenvolvido, todo esse trabalho vai ser feito durante este ano”, acrescentou o ministro.

O autor da obra, antigo dirigente comunista, considerou também que se trata de um lugar de “excelência para um museu nacional à resistência porque a democracia e a liberdade precisam [de locais deste género] neste momento em que surgem populismos no mundo”.

No livro, Carlos Brito conta as suas memórias do cárcere e as lutas dos presos por melhores condições assim como as características da prisão que considerou serem “austeras e intimidatórias” ao estar situada junto ao mar, na ponta de uma península.

Carlos Brito viveu mais de uma década na clandestinidade, foi preso pela policia política do regime (PIDE) por três vezes, tendo cumprido mais de oito anos de prisão, seis e meio dos quais no forte de Peniche.

Autossuspenso do PCP desde 2002, foi dirigente deste partido, antes e depois do 25 de Abril, acumulando funções de deputado à Assembleia da República e presidente do grupo parlamentar do PCP.

Após a saída do PCP, passou a ser dirigente da Associação Política Renovação Comunista.