Faltam mais de dois anos, mas Duarte, Ana e Nuno já estão dedicados a tempo inteiro à organização das próximas Jornadas Mundiais da Juventude. A eles vão juntar-se, mais perto da data, centenas de voluntários, na sua maioria jovens.
Até lá, cabe a estas três pessoas preparar um evento que, segundo Duarte Ricciardi, Secretário-Executivo do Comité Organizador Local, será um "dos maiores eventos que acontecem em Portugal na próxima década”. E já podemos adiantar alguns detalhes, nomeadamente a escolha do Parque Tejo para a Missa de encerramento, o que está praticamente fechado. Fica porém por revelar onde irão ocorrer, por exemplo, a Missa de abertura ou a Via Sacra, outros dos momentos altos do encontro católico, que deverá contar com a presença do Papa.
A Duarte cabe garantir que “tudo o que é preciso para montar uma Jornada está a ser feito por alguém” – é assim que descreve a função que ocupa nesta organização. O seu papel é, portanto, coordenar as operações e certificar que as responsabilidades estão bem definidas e alocadas.
Quando lhe perguntamos pela dimensão do evento, não avança com números, mas adianta que, apesar de as Jornadas se realizarem na diocese de Lisboa, as dioceses de Santarém e de Setúbal, pela sua proximidade geográfica, foram já chamadas a ajudar no acolhimento de peregrinos.
Não obstante, como os tempos atuais são de pandemia, está a ser grande a aposta da organização no digital e continua em cima da mesa a hipótese de uma JMJ totalmente online.
Duarte, Ana, Nuno e mais umas centenas
Atualmente, três pessoas trabalham profissionalmente na organização das próximas Jornadas Mundiais da Juventude. Duarte, na pasta Executiva, Ana Catarina, na Comunicação, e Nuno, no pelouro das Finanças.
Não obstante, a organização central desdobra-se, também, noutras áreas: Pastoral (produção de conteúdos), Logística (aspetos práticos de segurança, mobilidade ou saúde), Acolhimento de Voluntários, Secretaria Administrativa, Angariação de Fundos, Digital ou Pré-Jornadas e Envolvimento das Dioceses.
Ao SAPO24, ficou clara a intenção de apostar no digital, de maneira a não só permitir uma melhor divulgação dos conteúdos e eventos, mas também como forma de precaução em relação a uma hipotética situação de Covid-19 ainda no ano de 2023.
Com o aproximar do momento do evento, mais pessoas serão convidadas a integrar a equipa de profissionais que o organiza. Duarte Ricciardi aponta ainda para o envolvimento de cerca de 300 voluntários numa fase inicial, na sua maioria jovens, e que de alguma forma já estão a contribuir para o projeto, ainda que em trabalho temporário ou em tarefas mais específicas – como na comunicação e divulgação ou no desenvolvimento de certos conteúdos.
“Temos sentido muito boa vontade. Muita vontade das pessoas em participar neste projeto, de estarem envolvidas. Estamos quase sempre a receber solicitações de ‘Como posso ajudar?’ ou de ‘O que posso fazer?’”
Quando perguntamos a Duarte como é que as Jornadas se financiam, esclarece que esta vive das inscrições dos peregrinos e de algumas doações que possam ocorrer.
Em ligação direta com Roma
Há uma ligação direta ao Vaticano e, mais especificamente, ao Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, que, dentro do Vaticano, é a entidade que detém a responsabilidade sobre as Jornadas Mundiais da Juventude.
Esta permanente conexão é feita pela mão da comissão executiva de Lisboa – a qual é presidida por D. Manuel Clemente (Cardeal-Patriarca de Lisboa) e tem como membros os Bispos-Auxiliares de Lisboa D. Américo Aguiar e D. Joaquim Mendes e o próprio Duarte Ricciardi.
Há alguma autonomia por parte da organização lisboeta. No entanto, Roma contribui indicando e revendo os objetivos de uma jornada deste género e, através da experiência de eventos passados, em indicações práticas ao nível da organização.
A ponte com Lisboa e Fátima
“A Câmara Municipal de Lisboa, tal como o Governo e Presidência da República, estão connosco desde o primeiro momento deste sonho, muito antes até do próprio anúncio público. Não é possível a nenhum país organizar uma JMJ sem contar com as autoridades públicas na equipa. Estamos muito gratos pelo apoio e pelo caminho que faremos em conjunto até ao Verão de 2023”, diz Duarte.
Deste modo, o Secretário-Executivo das JMJ assegurou que o “canal direto” com a Câmara existe e que auspicia uma “colaboração ótima” até 2023 – ano em que se realizará a Jornada.
A maioria dos espaços onde irão acontecer as diferentes cerimónias religiosas do evento, e não só, ainda não estão definidos. Apesar disto, o Parque Tejo, junto à Ponte Vasco da Gama está praticamente decidido como o local para realizar a Missa final, ou seja, a Missa de envio dos peregrinos. “A menos que não seja possível por razões logísticas, à partida, esse espaço é o que está mais fechado”, revelou.
Já sobre a ligação entre este evento e Fátima, Duarte assume que “o objetivo é sempre o de proporcionar a melhor experiência possível para os peregrinos" e que "percebendo que esse pode ser um aspeto importante, tentaremos ir ao seu encontro". No entanto, "não temos ainda nada em concreto” organizado, diz.
Santarém e Setúbal chamadas a ajudar
Quantas pessoas podemos esperar nestas Jornadas Mundiais da Juventude? “É a incerteza com que trabalhamos”, explica Duarte Ricciardi.
Dada a situação geográfica de Portugal, enquanto porta de entrada na Europa, e as relações com o Brasil ou com os PALOP, os números de adesão poderão ser muitíssimo significativos.
Não obstante, não havendo ainda uma certeza quanto ao fim da pandemia do Covid-19 ou quanto à economia mundial, tanto pode ser 2023 o ano com mais inscritos de sempre nas Jornadas, como o ano com menos inscritos – podendo, inclusive, ter de ser inteiramente realizada pelo mundo digital e quase sem participantes.
“Se a Jornada fosse hoje, se calhar tinha de ser uma Jornada 100% digital”, assume Duarte, esperando, porém, que em 2023 tal não venha a acontecer. Mas estamos "claramente" perante "um desafio neste planeamento”, afirmou, explicando que há “cenários e planos contingentes".
"Também vamos navegando um bocadinho à vista, no sentido em que vamos vendo o que vai acontecendo no contexto internacional antes da Jornada, para irmos percebendo como é que a situação vai evoluir”, acrescenta.
Ainda assim, a ideia é cumprir com a agenda planeada, pelo que estão a ser montados dois cenários possíveis: com e sem a presença do vírus do Covid-19.
Uma vez que a expectativa é de que Lisboa receba de facto milhares de peregrinos, estes precisarão de locais para pernoitar. E, ao contrário de outras viagens, numa JMJ os locais de eleição não serão hotéis, mas sim pavilhões municipais, escolas ou casas cedidas por habitantes - neste caso, de Lisboa e arredores. Tal distribuição é feita pela organização e enviada para os peregrinos atempadamente.
Assim, e como não fará muito sentido que um peregrino que se desloque até à Jornada Mundial da Juventude de Lisboa seja colocado no Porto, há que definir limites para estes alojamentos – de maneira a garantir que as pessoas estão perto o suficiente do centro dos eventos, podendo deslocar-se facilmente até aos mesmos.
Como nos foi explicado, este trabalho faz-se por anéis. “Vamos trabalhando por anéis e, dependendo do número de pessoas, vamos alargando”, desenvolveu Duarte Ricciardi. Desta forma, para além da Diocese de Lisboa, também as Dioceses de Setúbal e de Santarém, pela sua proximidade geográfica, foram chamadas a ajudar.
Pré-jornadas, o aquecimento
As Pré-Jornadas ocorrem, naturalmente, antes da semana da Jornadas em si, e têm lugar, normalmente, na semana anterior ao evento principal. Nestas, peregrinos de todo o mundo são convidados a conhecer outras dioceses que não aquela onde se irá realizar a Jornada.
No caso de Portugal, o trabalho está a ser desenvolvido com todas as dioceses, excluindo-se Lisboa. De notar, que também as ilhas, ou seja, Açores e Madeira, estão incluídas neste processo.
O hino, tal como o logótipo, é um dos símbolos marcantes de qualquer Jornada Mundial da Juventude. No entanto, o máximo que a organização pôde adiantar é que “em breve esperamos ter novidades”.
“Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1, 39)
Este foi o tema escolhido pelo próprio Papa Francisco para a 28º edição das Jornadas Mundiais da Juventude.
Segundo o Secretário-Executivo da organização lisboeta, este lema alerta todos os cristãos católicos para uma “necessidade de ação” e para “sairmos de casa e do nosso conforto”.
Desta forma, remeterá para a postura que deve ser seguida, “quase como uma diretriz de como nos devemos comportar”, numa referência às obras de misericórdia que os católicos são chamados a cumprir – “sair à rua, sair dos nossos círculos e ir ter com as outras pessoas”.
“O Papa e o D. Manuel Clemente falam muito sobre a vocação de evangelização da Jornada e acho que é muito disso que fala: tal como Nossa Senhora fez, sairmos à rua.”
Não obstante, “apressadamente, mas não ansiosamente”, reforçou Duarte Ricicardi. Sendo gestor de profissão, afirmou que na vida, muitas vezes, urge cumprir variadas tarefas ao mesmo tempo, relativamente rápido e de maneira eficiente. Ainda assim, tudo deverá ser feito numa enorme paz e equilíbrio — e tendo em atenção os cuidados que a pandemia nos coloca ou colocará.
Texto de João Maldonado, editado por Inês F. Alves
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