Numa mensagem enviada à Lusa, a Casa da Música recorda que José Mário Branco “foi um revolucionário nas linguagens musicais sofisticadas e modernas (mas não elitistas) que trouxe para a música popular, ao longo de uma carreira profícua, enquanto um dos criadores mais originais da música portuguesa”.

“A Casa da Música lamenta o desaparecimento de José Mário Branco e recorda, em especial, a relação que com ele estabeleceu, de forma muito natural, logo na primeira edição do festival Música & Revolução, dedicada, nesse ano de 2007, tanto às revoluções musicais como à Revolução dos Cravos. (Nesse ano, em que se assinalava o 20.º aniversário da morte de José Afonso, recordava-se também o papel histórico de José Mário Branco enquanto autor dos inovadores arranjos para os álbuns ‘Cantigas do Maio’ e ‘Venham Mais Cinco’)”, pode ler-se no texto.

No espetáculo “Mudar de Vida”, estreado precisamente na sala principal da instituição do Porto, “José Mário Branco assumia um papel crítico e denunciador, enquanto membro ativo da sociedade, incluindo mesmo uma reedição (atualizada) do seu tema icónico ‘FMI’, perante uma Sala Suggia completamente cheia”.

“O tema nuclear era o direito à rebelião, proclamando: ‘quando a sociedade é injusta, a Revolução é já um princípio de Justiça’”, lembrou.

A Casa da Música salienta que “fica a mensagem de José Mário Branco, e fica também o seu valiosíssimo legado artístico, imprescindível para [se compreender] a música portuguesa do último meio século”.

Nascido no Porto, em maio de 1942, José Mário Branco, que morreu em Lisboa, é considerado um dos mais importantes autores e renovadores da música portuguesa, sobretudo no final dos anos 1960, quando estava exilado em França, e durante o período revolucionário.

O seu trabalho estende-se também ao cinema e ao teatro.

Compôs para peças como "A Mãe", sobre Bertolt Brecht e Maximo Gorki (levada à cena na Comuna), que daria origem a um dos seus álbuns, e para filmes como "Até Amanhã, Mário", de Solveig Nordlund, e "Três Menos Eu", de João Canijo, assim como para "Agosto" e "Ninguém Duas Vezes", de Jorge Silva Melo, que também interpretou.

Regressado a Portugal, após o 25 de Abril, foi fundador do Grupo de Ação Cultural (GAC), politicamente próximo da antiga União Democrática Popular (UDP), fez parte da companhia de teatro A Comuna, fundou o Teatro do Mundo e a União Portuguesa de Artistas de Variedades (UPAV).

Em 2018, José Mário Branco completou meio século de carreira, tendo editado um duplo álbum com inéditos e raridades, gravados entre 1967 e 1999.

A edição sucede à reedição, no ano anterior, de sete álbuns de originais e um ao vivo, gravados de 1971 a 2004.