“Vamos naturalmente conversar sobre o Greater Sunrise. Com este Governo há possibilidades, muito maiores, de encontrar uma solução que seja a melhor para Timor-Leste e melhor para a Austrália”, disse José Ramos-Horta em declarações à Lusa à sua chegada à Austrália.

“É um Governo novo, com muita simpatia para com Timor-Leste e que sabe que vivemos numa nova dinâmica geopolítica, com novas ameaças, novos riscos à paz e segurança na região dadas as tensões entre as grandes potências e as rivalidades”, afirmou.

José Ramos-Horta falava à Lusa pouco tempo depois de chegar a Darwin onde iniciou hoje uma viagem de Estado à Austrália que, formalmente, começa na terça-feira com a partida para Camberra e encontros, entre outros, com o primeiro-ministro, Anthony Albanese.

A visita a Camberra ocorre numa altura em que se intensifica o debate sobre o futuro desenvolvimento do projeto do Greater Sunrise que está há anos parado devido ao diferendo entre os dois países sobre o modelo de desenvolvimento.

A posição australiana defende um gasoduto até Darwin enquanto Timor-Leste, que tem posição maioritária no consórcio do projeto, a insistir num gasoduto para o país.

Timor-Leste detém 56,6% do Greater Sunrise, localizado a 150 quilómetros (KM) a sudeste do país e a 450 km a noroeste de Darwin, em parceria com Woodside (34,44%) e a Osaka Gas (10%).

Na semana, numa curta visita de 24 horas a Díli, a chefe da diplomacia australiana, Penny Wong, disse que é preciso “desemperrar” o desenvolvimento do projeto dos campos de gás de Greater Sunrise, considerando-o extremamente importante para a resiliência económica de Timor-Leste.

“O Greater Sunrise é extremamente importante. É importante reconhecer que os parceiros do consórcio [do Greater Sunrise] – a Timor Gap, a Woodside e a Osaka Gas têm que chegar a acordo para o projeto avançar e isso ainda não ocorreu”, disse Penny Wong em Díli.

“Isto está emperrado há muitos anos. Disse ao Presidente [timorense] e a outros que temos que o desemperrar, ver uma forma para resolver isto. Mas a melhor forma de resolver isso, respeitosamente, não através dos ‘media'”, afirmou na altura.

A chegada ao poder dos trabalhistas na Austrália — onde governam desde maio com maioria absoluta — poderá representar um novo ímpeto à solução do problema que é crucial para Timor-Leste que enfrenta, possivelmente dentro de apenas uma década, o fim da sua atual principal fonte de financiamento, o Fundo Petrolífero.

Ramos-Horta espera, por isso, que a visita a Camberra possa permitir avançar no projeto, tendo já ameaçado que se a Austrália se mantiver intransigente, e num curto espaço de tempo, Timor-Leste poderá procurar outros parceiros, sejam a vizinha Indonésia, a Coreia do Sul, Japão ou a China.

O crescente posicionamento da China na região do Pacífico e a perceção de que se poderia posicionar igualmente em Timor-Leste tem suscitado crescente preocupação entre países com a Austrália e os Estados Unidos.

“Conheço o primeiro-ministro desde há algum tempo e é uma pessoa que sempre teve grande simpatia por Timor-Leste. pessoa com muita sensibilidade, muito respeitado no partido”, disse.

“Venho à Austrália com muita confiança que com este Governo podemos aumentar o nível de cooperação na área de defesa e segurança, no apoio ao desenvolvimento de Timor-Leste, incluindo maior apoio na formação técnico-profissional de timorenses”, referiu.

O apoio nas escolas técnicas e profissionais de Timor-Leste — como passo também para incrementar o programa de mobilidade laboral para a Austrália, implicaria “adaptar o seu currículo para permitir aos graduados com diploma mais adaptado à Austrália mais facilmente obter emprego na Austrália, na Coreia ou noutros sítios”, explicou.

Esta é a segunda visita internacional de Ramos-Horta, depois da Indonésia, desde que tomou posse em maio.

“Há dois países extremamente importantes para Timor-Leste: a Indonésia e a Austrália. Nossos vizinhos imediatos, maiores economias da região e com os quais temos ótimas relações, que temos que incrementar”, disse.

“Do lado indonésio o PR está determinado em incrementar relações. Depois da minha visita a Jacarta convocou uma reunião com vários ministros para dar andamento ao projeto da zona de parque industrial na zona fronteiriça e o acordo de comércio livro em Oecusse”, destacou.

Hoje Ramos-Horta teve um primeiro encontro informal com a comunidade timorense em Darwin, participando num encontro no Portuguese & Timorese Social Club, onde ainda deu um pé de dança.

Em Camberra, e entre outros momentos da agenda, José Ramos-Horta vai reunir-se com a embaixadora dos Estados Unidos, Caroline Kennedy, participar numa mesa redonda com deputados e académicos e reunir-se com o líder da oposição, Peter Dutton.

A agenda inclui a participação num evento que marca o 200º aniversário da independência do Brasil, uma visita à Embaixada de Timor-Leste e um encontro com o Governador-Geral, David Hurley — que esteve em Díli a 20 de maio para a tomada de posse de José Ramos-Horta.

O chefe de Estado timorense visita ainda a cidade de Sydney (sudeste) antes de regressar a Darwin para encontros com responsáveis do Governo local e entidades que têm apoiado Timor-Leste, especialmente no quadro do combate à covid-19.

Nas próximas semanas Ramos-Horta tem prevista uma visita à cidade norte-americana de Nova Iorque, para participar na Assembleia-Geral das Nações Unidas e, em novembro, está prevista uma visita a Portugal.