A investigação foi realizada em 10 comunidades vulneráveis e envolveu 193 participantes com idades entre os 13 e os 18 anos. Estas comunidades estavam localizadas tanto em grandes cidades (Chicago, Los Angeles e Washington) como em zonas rurais. 

“Eu faço pesquisa sobre as camadas da sociedade com menos rendimentos há muito tempo, escrevi extensivamente sobre as mulheres na pobreza e sobre o risco de exploração sexual, mas isto é algo novo”, assumiu Susan Popkin, investigadora do Urban Institute e autora deste estudo, denominano "Impossible Choices" (Escolhas impossíveis), feito em parceria com uma rede de bancos de comida, a Feeding America.

Para a análise foram criados dois grupos de estudo, um feminino e outro masculino, em cada uma das dez comunidades selecionadas.

"Até para mim, que tenho estado a prestar atenção a isto e que ouvi as mulheres partilharem as suas histórias por muito tempo, a dimensão em que se verifica que a falta de comida está diretamente relacionada com vulnerabilidade social, é nova e chocante. O nível de desespero que tudo isto implica é chocante para mim. Acho que com o passar do tempo só pode piorar”, conclui a investigadora ao The Guardian.

Popkins assumiu que, durante a investigação, não tinha a certeza se iria ser possível fazer descobertas tão detalhadas sobre os comportamentos destes jovens. Eles “conhecem todas as estratégias: vão para casa dos amigos onde podem ser alimentados, passam fome para que os seus irmãos mais novos possam comer, guardam o dinheiro do almoço para poderem comer à noite para conseguirem dormir”, conta. "Todos sabem onde comprar a comida mais barata e como manter alguma 'comida de emergência' em casa. É, simplesmente, um facto muito comum, no país mais rico do mundo", lamenta.

Em treze dos vintes grupos nesta pesquisa foram detetados casos de exploração sexual. Nas comunidades em que o nível de pobreza é maior, tanto raparigas como rapazes roubam comida e outros bens de primeira necessidade nas lojas locais ou à própria família. De acordo com a investigação, há quem comece a roubar aos sete ou oito anos. Para além dos roubos, a venda de estupefaciente é também uma prática comum nestas comunidades.

Os adolescentes tentam racionalizar os seus atos: "não estou a roubar, estou a tirar o que preciso"; "se eu fizer sexo contigo tens de me pagar o jantar esta noite";  etc.

Algo que deixou a investigadora “perturbada” foi o facto de “todas as crianças, em quase todos os grupos em análise, estarem conscientes do que se estava a passar com as raparigas. Eles sabiam de casos de raparigas que saíam com homens mais velhos ou que eram exploradas”, conta Popkins. Tudo para poder pagar rendas, comida e roupa.

O estudo revelou ainda que os adolescentes tendem, por vergonha, a esconder as suas necessidades e a recusar ajuda de pessoas ou instituições fora do seu circulo de amigos e família. E, em algumas comunidades, os jovens falam em ir para a cadeia para garantir o acesso a refeições.

De acordo com o relatório, estima-se que 6,8 milhões de indivíduos, entre os 10 e 17 anos, vivem em casas onde a comida não é um bem garantido. Sendo que dentro deste número, quase três milhões vivem num limiar crítico no que toca à satisfação das necessidades alimentares.

No final ficam as recomendações. O Urban Institute pede melhorias no sistema federal de assistência à nutrição, o que passaria por um alargamento de oferta de refeições - ou de refeições a baixo custo - nas escolas durante o verão, e ao jantar; a criação de mais oportunidades de trabalho jovem; e a promoção de  projetos comunitários.