“Dez meses depois de o assassinato de George Floyd ter gerado indignação e reivindicações em todo o mundo para que as coisas mudem”, começa um julgamento crucial, considerou Michelle Bachelet no Conselho de Direitos Humanos.

Mas “esta oportunidade fundamental para a justiça é negada a inúmeras outras famílias. Há muitos casos que envolvem a morte de pessoas afrodescendentes que nunca chegam à fase de julgamento e a dor de tantas famílias continua a ser ignorada. Ou mesmo negada”, disse a ex-presidente do Chile, fazendo um ponto de situação do relatório sobre racismo sistémico que deverá apresentar em junho.

O julgamento de Derek Chauvin, o polícia acusado do assassinato de George Floyd, começou em 9 de março em Minneapolis, EUA.

A morte aconteceu em 25 de maio do ano passado e o caso começou com um homem a ser detido pela polícia de Minneapolis por suspeita de tentar pagar a conta do supermercado com uma nota falsa de 20 dólares.

Um vídeo feito por transeuntes e divulgado nas redes sociais mostrou imagens de George Floyd a ser retirado do carro onde seguia sem resistir à polícia e depois um polícia a colocar o joelho no pescoço do detido e a pressioná-lo durante quase nove minutos. No vídeo é possível ouvir-se Floyd a dizer ao polícia que não consegue respirar e a sua morte acontece pouco depois.

A morte de George Floyd, de 46 anos, provocou um dos maiores movimentos de protesto da vida dos Estados Unidos.

Bachelet, que apenas aludiu aos Estados Unidos sem nunca citar o nome do país ou de qualquer outro, disse estar “profundamente preocupada com a extensão dos desafios enfrentados pelas famílias que exigem verdade e justiça”, com pouco apoio jurídico, financeiro ou psicológico.

A violência policial tem de acabar, mas “isso não acontece no vazio”, lembrou a alta comissária da ONU.

“A menos que abordemos o racismo sistémico em todas as instituições, não conseguiremos ‘corrigir’ a polícia”, considerou.

“O racismo sistémico exige uma resposta sistémica”, sublinhou, acrescentando que “para acabar com a injustiça racial em questões de manutenção da ordem, não podemos abordar o assunto apenas pela rama. Temos de enfrentar o conteúdo abaixo da superfície”.

Para Bachelet, isso significa que é preciso enfrentar o legado da escravatura, da colonização e de séculos de discriminação.

“Temos de nos comprometer a olhar para trás com um olhar crítico para conseguirmos dar um passo gigantesco em frente”, afirmou.

A alta comissária prometeu ainda que, no relatório a divulgar em junho, irá propor um calendário de ações para “desmantelar o racismo sistémico e a violência policial contra africanos e afrodescendentes e avançar na responsabilização e justiça para as vítimas”.