Kim, que partiu no sábado da Coreia do Norte, está na capital vietnamita para uma cimeira com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, considerada decisiva para a paz na Ásia.
No início da manhã, envergando um fato maoista, foi recebido com passadeira vermelha na estação de comboios de Dong Dang, na fronteira entre a China e o Vietname, por vários quadros de Hanói e tropas vietnamitas em uniformes brancos e botas pretas.
O líder norte-coreano entrou depois na limusine preta da Mercedes que o levou até Hanói.
As autoridades vietnamitas cortaram o trânsito ao longo da rota de 169 quilómetros desde a fronteira até à capital do país.
Em Hanói, dezenas de jornalistas aguardam em frente ao hotel Meliã Hanoi, um dos mais emblemáticos da cidade, situado na zona antiga, e onde Kim está alojado.
Centenas de bandeiras dos três países – Estados Unidos, Coreia do Norte e Vietname -, vasos de flores e um símbolo com um aperto de mão ornamentam desde segunda-feira os candeeiros nas principais ruas de Hanói.
Esta manhã, em frente a um painel com cerca de vinte metros de comprimento e cinco de altura, onde as bandeiras dos EUA e da Coreia do Norte foram compostas por flores, vários vietnamitas aproveitavam para tirar fotografias.
Kim deve-se encontrar com os líderes vietnamitas e prestar homenagem no mausoléu de Ho Chi Minh, o monumento onde está o corpo do histórico líder comunista vietnamita.
Crianças vestidas com trajes tradicionais coreanos aguardam também por Kim Jong-un no Jardim de Infância da Amizade Vietname-Coreia.
Aquele estabelecimento foi visitado, em 1964, pelo avó de Kim Jong-un e fundador da República Popular Democrática da Coreia (nome oficial da Coreia do Norte), Kim Il Sung, durante uma visita ao Vietname, em 1964.
Na quarta-feira, Kim deve deslocar-se à cidade portuária de Haiphong, onde o conglomerado vietnamita Vinfast ergueu uma fábrica de carros e scooters elétricas.
Está também prevista uma visita à província de Bac Ninh, onde a gigante sul-coreana de eletrónicos Samsung tem uma fábrica.
A escolha do Vietname para acolher a cimeira Trump-Kim não surge por acaso: o exemplo vietnamita poderá inspirar Kim Jong-un a abdicar do seu programa nuclear, adotar reformas económicas e construir uma relação de amizade com Washington.
“Faz sentido que seja Hanói a acolher a cimeira entre Trump e Kim”, disse à Lusa Tong Zhao, especialista sobre a Coreia do Norte no centro de pesquisa de política global Carnegie-Tsinghua, com sede em Pequim.
“O Vietname tem um passado de grande hostilidade e uma guerra travada contra os EUA, à semelhança da Coreia do Norte, mas passou com sucesso para uma relação muito amigável”, descreve.
O analista lembra como Hanói, outrora isolado no xadrez da Guerra Fria, se abriu e integrou a comunidade internacional, gozando hoje de um “enorme potencial” e uma economia “muito robusta”.
Pyongyang sofreu já décadas de isolamento e pobreza extrema, incluindo períodos de fome que causaram milhões de mortos, mas não abdicou de uma economia planificada e poder altamente centralizado, desenvolvendo antes um programa nuclear como garantia de sobrevivência do regime.
Hanói, que há mais de cinquentas anos foi arrasada por bombas norte-americanas, aderiu em meados dos anos 1980 à iniciativa privada, rompendo com a ortodoxia comunista, e é hoje um importante parceiro económico e aliado de Defesa dos EUA, à medida que a China adota uma postura mais assertiva reclamando territórios disputados por pelo Vietname.
O país aderiu também também à Organização Mundial do Comércio e acordos comerciais multilaterais, como o Acordo de Associação Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), passando a beneficiar de baixas taxas alfandegárias sobre as suas exportações.
Com um Produto Interno Bruto equivalente a 209 mil milhões de euros – próximo do PIB português – o Vietname está já entre as 50 maiores economias do mundo. Em 2018, a economia vietnamita cresceu 7%, impulsionada por um aumento de dois dígitos na produção industrial.
À margem da liberalização económica, o Partido Comunista do Vietname mantém um apertado controlo sobre a imprensa, sociedade civil e dissidentes políticos.
Comentários