Laura Melo, portuguesa na Venezuela, está no país a ajudar crianças carenciadas através do Programa Alimentar Mundial, uma agência da ONU. Melo explica que o essencial é "apoiar crianças através da alimentação escolar. Estamos a trabalhar em oito estados do país, apoiando cerca de 450 mil pessoas mensalmente, essencialmente crianças, mas também professores e todo o pessoal que está nas escolas onde trabalhamos”, disse em entrevista à agência LUSA.
Laura Melo lembrou que o PAM é uma agência da ONU que promove a segurança alimentar e a nutrição das pessoas mais pobres e vulneráveis, em cerca de 120 países, com milhões de beneficiários “porque, lamentavelmente, do ponto de vista da fome no mundo, a situação está a piorar. Em abril de 2021, o PAM assinou um acordo com o Governo da Venezuela para começar a trabalhar e dar apoio, do ponto de vista de segurança alimentar e nutrição no país”, disse, precisando que já tinham estado no país, há muito tempo.
Três meses depois, em julho, começaram as atividades locais, com a distribuição de comida em escolas até à pré-primária do estado de Falcón, a crianças dos 6 meses aos 6 anos de idade, e em “escolas especiais”, a pessoas com deficiências.
“Os programas de alimentação e as atividades de apoio nas escolas existem numa diversidade de países na América Latina (…) apoiamos precisamente para complementar muitas vezes os esforços inclusive do próprio país, para alimentar e ajudar as pessoas mais vulneráveis a terem uma dieta nutritiva. Essencialmente para que as crianças possam ter um desenvolvimento saudável e possam cumprir com o seu potencial”, frisou.
Laura Melo explicou que gosta muito do que faz e que tem “muito orgulho” em trabalhar para o PAM, organização com a qual trabalha “há mais de 20 anos": "Estou apaixonada pela Venezuela. É um país maravilhoso, com gente maravilhosa, com um potencial incrível. E o nosso trabalho é essencialmente apoiar esse potencial, que todas essas oportunidades que há no país possam chegar ao seu máximo”, disse.
A responsável frisou ainda que a Venezuela “é um país com uma enorme diversidade geográfica, com uma capacidade e um talento humano absolutamente fantástico”.
“O desejo de avançar, de conseguir coisas para o seu país é uma coisa extraordinária e dá-nos muito orgulho de poder apoiar a Venezuela”, acrescentou. Por outro lado, explicou que o PAM é uma agência financiada de forma absolutamente voluntária, que conta com países doadores, com uma componente importante do setor privado e outro tipo de organizações.
“Mas, o grande peso vem dos países doadores que estão sempre a financiar onde estão as maiores necessidades e, lamentavelmente, atualmente há muitas crises, muita competição por recursos (…) A crise da pandemia afetou muitíssimo quase todos os países do mundo e afetou também a situação alimentar desses países”, lembrou.
Segundo Laura Melo, “também o conflito na Ucrânia está a afetar muitíssimo a produção de alimentos e de fertilizantes praticamente todos os países do mundo: onde há produção agrícola, há um aumento de preços e isso traduz-se num aumento de preços dos alimentos para o consumidor e as populações, afetando a capacidade de compra de alimentos diversificados e de garantir uma dieta diversificada, fundamental para uma boa nutrição”.
Esta portuguesa estudou em Portugal e fez um mestrado em Londres onde trabalhou como jornalista. “Depois o jornalismo levou-me a estas coisas do mundo humanitário (..) e a determinada altura, entrei para o PAM, há mais de 20 anos”, contou.
“Comecei a trabalhar em África e na última década na América Latina. Já trabalhei no Panamá, em Cuba, Guatemala e agora Venezuela”, onde, disse, há também “uma comunidade portuguesa muito extensa”.
“É sempre um prazer chegar a um país e ver que Portugal está bem representado (…) ver que os portugueses deixaram um contributo muito importante neste país. Ser portuguesa é sempre uma mais-valia. Somos um país bem visto no mundo em geral. Somos um país com muitíssimas boas relações com todos os países do mundo”, disse.
Laura Melo espera que um dia o trabalho que faz de “contribuir para pôr fim à fome no mundo (…) não seja necessário”.
“Espero que um dia não haja necessidade de haver no mundo pessoas que lutam contra a fome, que não haja necessidade de nos enfrentarmos com as necessidades de tantas comunidades e tantas famílias. Espero que um dia não haja fome no mundo”, concluiu.
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