“Estou mais determinada do que nunca a colocar toda a minha energia e vontade de reabilitar a política, de restaurar a sua utilidade e a sua eficácia ao serviço do povo francês. As eleições presidenciais são, mais do que nunca, as eleições que permitem mudar as políticas e os políticos”, afirmou a líder da União Nacional (RN, na sigla em francês).
Na região de Provença-Alpes-Côte d’Azur (PACA), onde a RN “apostava todas as suas fichas” nestas regionais, a lista encabeçada pelo atual presidente, o conservador Renaud Muselier, terá vencido com 57% dos votos, contra 43% da candidatura da União Nacional, liderada por Thierry Mariani.
Le Pen atribuiu a derrota do candidato a “alianças não naturais” feitas contra o seu partido.
“Fizeram tudo para nos impedir de mostrar aos franceses a nossa capacidade de dirigir um governo regional”, disse Le Pen, pouco depois do encerramento das urnas.
O plebiscito foi encerrado com uma abstenção recorde estimada em cerca de 66%, que Le Pen não deixou de comentar.
“Quando dois em cada três franceses já não vão votar, particularmente os jovens e as classes populares, é evidente que temos de considerar a mensagem. Este alheamento cívico histórico é um sinal importante enviado a toda a classe política e mesmo à sociedade como um todo”, afirmou Marine Le Pen.
A líder da extrema-direita francesa considerou que a mobilização será a chave para a vitória do seu partido nas próximas eleições e argumentou que esta “crise profunda” que está a atravessar a democracia local “requer um trabalho de reflexão coletiva”, desde os métodos de mobilização até à informação dada aos eleitores.
Resultados das eleições regionais são deceção para República em Marcha
O partido do Presidente francês, o República em Marcha, criado em 2017 sem raízes territoriais, já tinha sofrido um forte revés na primeira volta das eleições, realizada no domingo passado, e não conseguiu vencer em nenhuma das 13 regiões do país.
As mesas de voto fecharam às 20:00 locais (19:00 em Lisboa) e a projeção do Ifop (Instituto Francês de Opinião Pública) para as estações de televisão TF1 e LCI calculou uma abstenção de 66%.
Em 2015, a abstenção na segunda volta das eleições regionais foi de 41,6%, em 2010 foi de 48,8% e em 2004 foi de 44,3%.
As estimativas de hoje confirmam a falta de interesse demonstrada na primeira volta do escrutínio, realizada no último domingo, em que a abstenção atingiu 66,7% do eleitorado.
Este foi o registo de abstenção mais elevado da Quinta República, estabelecida em 1958, com exceção do referendo em 2000, que reduziu o mandato presidencial do chefe de Estado francês de sete para cinco anos e no qual 69,81% dos cidadãos não votaram.
Tal como o partido Frente Nacional, de Marine Le Pen, o República em Marcha sofre de falta de apoio regional, ao contrário da direita e da esquerda moderada e até da extrema esquerda e dos ecologistas.
Este resultado deverá levar a que os partidos que conseguiram melhores votações nas regionais exijam uma reorganização do cenário de preparação para as próximas presidenciais, em 2022, cuja final se estima seja disputada por Mácron e Le Pen.
“Agora toda a gente já entendeu que a eleição presidencial vai ser uma corrida a três”, disse Xavier Bertrand, ex-ministro republicano e vencedor na região de Hauts-de-France (Norte), que já tinha assumido anteriormente ser candidato a Presidente em 2022.
A vencedora da região de Ile-de-France, Valérie Pécresse, e o da região de Auvergne-Rhône-Alpes (centro), Laurent Wauquiez, também se vão reposicionar, ao contrário do que se estima que aconteça com a esquerda.
Apesar de ter conquistado várias regiões, com alianças com ambientalistas, socialistas e com a extrema esquerda, nenhum dos eleitos de hoje está na fila para concorrer às presidenciais e os líderes dos partidos não conseguem chegar a acordo sobre uma candidatura única.
“Este ressurgimento da divisão entre esquerda e direita deve, no entanto, ser analisado com cautela e não deve ser reproduzido para o duelo Macron/Le Pen, já que esta polarização é tradicional ao nível das instituições locais, mas não se traduz no nível nacional”, alertou hoje o presidente do instituto de sondagens PollingVox, Jérôme Sainte-Marie.
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