No dia em que Portugal registou um novo número máximo diário de infeções com o vírus SARS-CoV-2, de mais de 52 mil casos, a ministra da Administração Interna anunciou que os eleitores em isolamento devido à covid-19 vão poder sair de casa para votar em 30 de janeiro.
Francisca Van Dunem, que fez este anúncio depois de ter recebido o parecer pedido ao Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República (PGR), adiantou que o Governo irá recomendar uma hora específica para o voto dos eleitores em isolamento, provavelmente das 18:00 às 19:00.
Em campanha em Beja, o secretário-geral do PS e primeiro-ministro, António Costa, comentou esta decisão à saída de uma empresa agrícola, assinalando que a solução encontrada, no seu entender equilibrada, é uma recomendação e não uma imposição: "O horário está fixado na lei, a lei não pode ser alterada, é uma lei da Assembleia da República e, portanto, todos os cidadãos têm o direito a votar à hora que entenderem. O que é que o Governo pode fazer? É recomendar".
Sobre uma possível situação de "dependência do PAN", rejeitada pelo histórico socialista Manuel Alegre, António Costa afirmou que o PS não cede nos "valores essenciais" e "só está dependente dos portugueses, não está dependente de mais ninguém".
Em Viseu, o presidente do PSD, Rui Rio, considerou que um período de votação das 18:00 às 19:00 é um "espaço de tempo é muito curto" e pediu explicações ao Governo sobre por que motivo "não vai haver mesas específicas e próprias apenas para aqueles que estão confinados e, particularmente, aqueles que estão infetados".
Rui Rio lançou uma farpa ao secretário-geral do PS por ter apontado o atual Presidente da República como uma garantia contra eventuais abusos de uma maioria absoluta, questionando: "Tem mais confiança no presidente Marcelo do que em Mário Soares, Jorge Sampaio ou Cavaco Silva?".
Mais cedo, na Guarda, o presidente do PSD manifestou-se confiante de que o seu partido "vai recuperar um deputado" neste círculo eleitoral, onde em 2019 conseguiu um dos três eleitos.
A caravana bloquista arrancou em Setúbal, onde a coordenadora do BE visitou um quartel de bombeiros, para os quais pediu meios e maior profissionalização, face às alterações climáticas, dirigindo críticas à direita que nega a "emergência climática" e ao PSD por querer "estender a área de eucalipto" em Portugal.
No quarto maior círculo eleitoral, onde estão 18 deputados em disputa e nas últimas duas legislativas o BE elegeu dois, Catarina Martins contestou a maioria absoluta pedida pelo PS, argumentando que as eleições não servem para "votar em soluções de maiorias", mas em "programas para o país".
Também em Setúbal esteve o presidente do CDS-PP, que começou o dia com uma visita o mercado do Livramento, onde pediu votos para "dar um bigode ao PS" e disse esperar ter "a alegria" de voltar a eleger neste círculo.
À tarde, no Seixal, Francisco Rodrigues dos Santos considerou que o Governo agiu tarde em relação ao voto dos eleitores em isolamento e que "a montanha pariu um rato", insistindo que as eleições deveriam decorrer em dois dias, um para os isolados e outro para os restantes eleitores, para dar segurança às pessoas e evitar que o resultado das eleições possa "estar de certa maneira viciado".
João Oliveira foi o protagonista da campanha da CDU, depois de João Ferreira ter testado positivo ao SARS-CoV-2 na terça-feira. No concelho de Vila Franca de Xira, distrito de Lisboa, o líder parlamentar do PCP defendeu que "há todas as condições" para estas legislativas decorrerem sem constrangimentos, quer para os isolados quer para os restantes eleitores, e que é preciso desdramatizar e confiar nos portugueses.
Inês Sousa Real, porta-voz do PAN, andou por Évora e à margem de uma visita ao canil municipal apelou ao Governo para alargar o horário de votação recomendado aos eleitores em isolamento devido à covid-19, considerando que "uma hora é insuficiente" para que se vote "sem ser em contexto de fila".
"Não queremos é que a rainha da noite seja mais uma vez a abstenção”, declarou.
De manhã, em visita ao aeroporto de Lisboa, o presidente da Iniciativa Liberal distribuiu cheques fictícios de 1.200 euros à ordem da TAP para ilustrar os gastos do Estado com a companhia aérea, pelos quais criticou o Governo do PS. João Cotrim de Figueiredo propôs uma auditoria do Tribunal de Contas ao processo de nacionalização da TAP e defendeu a sua privatização "imediata e responsável".
À tarde, durante uma ação de campanha em Almada, no distrito de Setúbal, o presidente e deputado único da Iniciativa Liberal mostrou-se satisfeito por os eleitores em isolamento poderem sair para votar em 30 de janeiro, mas lamentou que a decisão seja "tomada em cima da hora".
Em Viseu, onde não se chegou a cruzar com o PSD, André Ventura, presidente e deputado único do Chega, também considerou que a solução anunciada pelo Governo "veio tarde" e sugeriu circuitos diferentes para diminuir o risco de contágio nas secções de voto.
Rui Tavares, cabeça de lista do Livre pelo círculo eleitoral de Lisboa, visitou as salinas do Samouco, em Alcochete, no distrito de Setúbal, com a mensagem de que "a ecologia e a economia podem andar de mãos dadas". Questionado sobre a situação da TAP, respondeu que que a empresa deve ser pública, sustentável, lucrativa e com "valor social".
Além de PS, PSD, BE, CDU (PCP/PEV), CDS-PP, PAN, Chega, Iniciativa Liberal e Livre – partidos que conseguiram representação parlamentar nas legislativas de outubro de 2019 –, concorrem às eleições de 30 de janeiro outras 12 forças políticas, num total de 21.
Os outros partidos concorrentes são: Aliança, Ergue-te (ex-PNR), Alternativa Democrática Nacional (ex-PDR), PCTP-MRPP, PTP, RIR, MPT, Nós, Cidadãos!, MAS, JPP, PPM e Volt Portugal, que se estreia em legislativas.
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