O comissário Stephen Lo Wai-chung disse que os detidos foram acusados de conduta desordeira e de crimes relacionados com tumultos.
Lo sustentou que a polícia deu espaço de manobra para os manifestantes expressarem a sua oposição às mudanças legais propostas, mas justificou o uso da força com o facto de terem sido arremessados objetos às forças de segurança.
O responsável policial confirmou ainda a utilização de gás lacrimogéneo, gás pimenta e armas antimotim para dispersar os manifestantes.
Este foi o segundo protesto em quatro dias a causar o caos no centro da ex-colónia britânica, agora administrada pela China, com esta última manifestação a ser marcada também pelo confronto entre jovens e as forças de segurança.
Os acontecimentos obrigaram o Executivo a adiar o debate sobre a lei e a encerrar até sexta-feira as instalações da sede do Governo.
A China disse hoje apoiar a forma como Hong Kong lidou com a manifestação. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros Geng Shuang considerou que os protestos na Região Administrativa Especial chinesa de Hong Kong “não são uma manifestação pacífica”, mas antes um “flagrante tumulto organizado”.
O porta-voz acrescentou que “nenhuma sociedade civilizada, regida pela lei, toleraria ações ilegais que perturbam a paz e a tranquilidade”. Geng condenou ainda a “interferência” da União Europeia (UE) nos assuntos internos da China.
A UE apelou na quarta-feira, em comunicado, para que os direitos fundamentais da população de Hong Kong “sejam respeitados” e que “a moderação seja exercida por todos os lados”.
No domingo, centenas de milhares de pessoas protestaram contra aquela proposta de lei, com os organizadores a falaram de mais de um milhão de pessoas na rua e as forças policiais a admitirem apenas a participação de 240 mil.
A imprensa estatal chinesa só hoje referiu os protestos, caracterizando-os como um “tumulto” e acusando os manifestantes de “atos violentos”.
Num editorial acompanhado da foto de um polícia ensanguentado, o jornal estatal China Daily acusa os manifestantes de estarem a usar o projeto de lei “para manchar a imagem do governo”.
A agência noticiosa oficial chinesa Xinhua afirma que os manifestantes usaram “barras de ferro afiadas” e atiraram tijolos contra a polícia.
O Global Times, jornal oficial do Partido Comunista Chinês (PCC), descreveu também como “violentos” os protestos em Hong Kong e atribuiu-os à interferência de “poderosas forças estrangeiras”.
O jornal em inglês do grupo do Diário do Povo, o órgão central do PCC, considerou que “sem a interferência de poderosas forças estrangeiras, especialmente dos Estados Unidos, os grupos da oposição não teriam a capacidade de protagonizar incidentes tão violentos em Hong Kong”.
O jornal cita vários portais noticiosos de Hong Kong, próximos do Governo central, para descrever os manifestantes como “separatistas extremistas”, armados com “garrafas cheias de gás e tinta, ferramentas, barras de ferro e catapultas, para atacar a polícia”.
Cerca de 70 pessoas ficaram feridas.
Proposto em fevereiro e com uma votação final prevista para antes do final de julho, o texto permitiria que a chefe do executivo e os tribunais de Hong Kong processassem pedidos de extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.
Os defensores da lei argumentam que, caso se mantenha a impossibilidade de extraditar suspeitos de crimes para países como a China, tal poderá transformar Hong Kong num "refúgio para criminosos internacionais".
Os manifestantes dizem temer que Hong Kong fique à mercê do sistema judicial chinês como qualquer outra cidade da China continental e de uma justiça politizada que não garanta a salvaguarda dos direitos humanos.
A transferência de Hong Kong e Macau para a República Popular da China, em 1997 e 1999, respetivamente, decorreu sob o princípio 'um país, dois sistemas', precisamente o que os opositores às alterações da lei garantem estar agora em causa.
Para as duas regiões administrativas especiais da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, sendo o Governo central chinês responsável pelas relações externas e defesa.
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