"Eu conheço os produtores de leite, e eles conhecem-me. Sabem que sempre estive ao seu lado e sabem que sempre me bati pela defesa de um setor que é talvez aquele que exige maior esforço e maior penosidade, já que se trata de um setor em que se trabalha 24 horas por dia, todos os dias do ano. As vacas são ordenhadas pelo menos duas vezes em cada 24 horas", afirmou à Lusa o governante.

O Governo anunciou hoje um novo conjunto de medidas de apoio a muito curto prazo para o setor do leite, que vão ser discutidas em Conselho de Ministros, reforçando as ajudas já em vigor para o setor.

"É um setor que merece todo o apoio do Governo e merece que o Governo português se bata em Bruxelas por uma das reivindicações que o Governo mais subscreve, que é a necessidade de repor o regime de quotas leiteiras na União Europeia", destacou Capoulas Santos.

"A União Europeia tomou uma decisão errada, de por fim ao regime de quotas, e, ao fazê-lo libertou todo o potencial de produção da Europa, provocou o aumento da oferta e quando numa economia de mercado há um aumento da oferta, os preços baixam", assinalou.

Segundo o ministro, "é necessário voltar ao regime de quotas. Infelizmente, a Comissão Europeia tem vindo a recusar essa hipótese, porque existe ainda uma maioria de estados-membros que se opõem a essa possibilidade".

E acrescentou: "De qualquer modo, eu tenho esperança de que 'água mole em pedra dura tanto bate até que fura', e tenho assistido nos últimos nove meses a mudanças de posição muito importantes no Conselho de Ministros da Agricultura da União Europeia, e estou convencido que mais tarde ou mais cedo qualquer mecanismos de reposição dos limites de produção terá de ser adotado na Europa, se a Europa quiser salvar o seu setor leiteiro".

Num dia em que várias dezenas de tratores participam na marcha lenta de produtores de leite e carne, a realizar na Estrada Nacional (EN) 109, entre Ovar e Estarreja, que exigem melhores preços e o regresso das quotas leiteiras, Capoulas Santos transmitiu uma "mensagem de solidariedade e apoio aos produtores e a certeza que o Governo está a fazer tudo o que pode para lhes transmitir algum apoio".

O governante realçou ainda que "nenhum outro Estado-membro adotou um pacote de apoio semelhante àquele que Portugal está a adotar para ajudar os seus produtores".

Além da marcha lenta dos tratores, a ação organizada pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e pela Associação Portuguesa de Produtores de Leite e Carne (APPLC) abrange ainda uma concentração junto a três hipermercados em Estarreja, distrito de Aveiro.

"Vamos fechar com um cadeado humano, de uma forma simbólica, os hipermercados que ali estão à beira da EN 109, em protesto contra a ditadura comercial que as grandes superfícies exercem", disse à Lusa João Dinis, da Direção da CNA.

João Dinis acusou as grandes superfícies de "esmagarem" os preços à produção nacional, nomeadamente do leite e da carne, referindo que os produtos alimentares "são por via de regra chamarizes das promoções e, também por isso, atravessam uma grave crise".

O dirigente realçou que os produtores de leite "estão a ter prejuízo para continuar a produzir", alegando que, atualmente, por cada quilo de leite, têm um prejuízo de oito cêntimos.

"A média [do preço do leite ao produtor] está em 26 cêntimos por quilo, enquanto o custo de produção anda em 34 cêntimos. E os agricultores não estão a contabilizar o valor do seu trabalho", sublinhou.