Debater sobre a praxe acende paixões, polariza opiniões e leva-nos muitas vezes a partir de casos específicos para impormos o nosso ponto de vista sobre o todo. Mas por ser uma prática tão heterogénea, com histórias e experiências altamente variáveis de cidade para cidade e de curso para curso, a discussão é pouco dada a intransigências.

Parece consensual que, na teoria, a praxe é voluntária: participa quem quer. Não obstante, muitos utilizadores identificam a pressão dos pares que condiciona os alunos recém-chegados. Há o medo de não ser aceite, de não fazer amigos, de ser posto de parte. Para Rui Silva «é ingénuo pensarmos que a pessoa comum com 18 anos, acabada de chegar a um novo ambiente, vai ter um livre-arbítrio completo». Ricardo Melo fala num «sufoco social».

Ivo Raposo, no Twitter, defende a praxe. Para ele, quem fala mal não a conhece.

Contudo, as represálias para quem se declara anti-praxe parecem ter ficado lá bem longe. Ainda que não haja sintonia sobre se há hoje práticas menos violentas do que nas gerações anteriores, parece estar consolidada a ideia de que existem agora mais mecanismos, dentro e fora das instituições, para que os direitos dos novos alunos sejam garantidos e os abusos reportados. E quando a violência não é explícita? Para João Delgado a experiência foi muito má, numa praxe com «cânticos homofóbicos» e «chantagem emocional» que, admite, «prejudicaram» o seu desenvolvimento pessoal. Elio Miranda discorda: diz que passou por «macacadas», mas os mais velhos «nunca fizeram nada contra a sensibilidade dos caloiros».

Pedro Diniz compara a praxe ao bullying. Tratar-se-á de violência em meio escolar, claro, se a participação na praxe for contra a vontade do aluno. Sobre os crimes em contexto de praxe, principalmente os mais badalados, Francisco Ribeiro garante que, antes de chocarem a população, chocam principalmente quem se encontra vinculado à praxe. 

E acabar de vez com a praxe? Para Rebeca Martins faz todo o sentido, partindo deste raciocínio: se alunos Erasmus - que mudam de país e se deparam muitas vezes com uma língua que não conhecem - não precisam de praxe para se adaptarem, por que razão não é possível utilizar as mesmas formas de integração com os caloiros?

Tradição não pode ser argumento, para Soraia Salvador.

Em boa verdade, o paradigma pode estar a mudar. Têm surgido, um pouco por todo o país, praxes solidárias, que aliam a integração dos novos alunos ao contributo positivo para a comunidade envolvente (como o caso do Politécnico de Leiria, um exemplo entre vários). Nada que surpreenda Patrícia Moutinho e os seus colegas, que, já há 10 anos, na Universidade de Trás-os-Montes, iam «recolher alimentos e roupas para distribuir aos mais necessitados» enquanto se divertiam.

Para João Costa, muitos caloiros apenas aceitam ser praxados porque querem vestir o traje académico. Vários utilizadores avisaram que todo o estudante universitário tem o direito de trajar.

No código de praxe desse curso (documento que estabelece os direitos e deveres de quem praxa e quem é praxado), assevera Patrícia Moutinho, está escrito que «doutores e caloiros não se podem tocar ou sequer alterar o tom de voz». O que contraria a opinião de Paulo Gonçalves, para quem «só há um código», o de Coimbra, e os restantes são «adaptações foleiras». Apesar de muitos textos terem sido revistos nos últimos anos, vincando o carácter voluntário e a proibição de gestos violentos, em Coimbra permanece escrito que os mais velhos podem rapar o cabelo aos novos alunos que circulem pela cidade a partir de certa hora da noite.

O comentário mais popular do dia. Inês Benfeitas sintetiza os dois lados da discussão.

A amplitude é larga ao ponto de compreender opiniões como «absolutamente deprimente» ou «foi das melhores coisas que me aconteceu», claro está, porque as experiências e as filosofias são radicalmente diferentes. Há um desejo, do António Paiva, que fazemos questão de partilhar, em tom de remate: «espero que sejam felizes».

 Agradecemos a partilha de experiências e os contributos que foram dados. O SAPO24 quer continuar a ouvir a comunidade.