A fundação pontifícia, que analisou a situação de 196 países entre junho de 2014 e junho deste ano, considera que em sete países - Afeganistão, Iraque, Nigéria, Coreia do Norte, Arábia Saudita, Somália e Síria -, a situação global era "já tão má" que "dificilmente podia piorar".

Em contrapartida, a situação "estabilizou em 21 dos 38 países" considerados preocupantes, e melhorou em três, Butão, Egito e Qatar, adianta o documento, disponível no 'site' da fundação.

Em 14 nações "a situação agravou-se claramente desde 2014", afirma, destacando o caso do Bangladesh, país de maioria muçulmana onde "os grupos religiosos minoritários são um alvo" com "48 homicídios em 18 meses". Ou no Sudão, onde a fundação católica lamenta "a detenção de religiosos" e a "apreensão de terras pertencentes à Igreja".

O período em análise assistiu à emergência de um novo fenómeno de violência religiosa, que a AIS define como "hiper-extremismo islâmico", caracterizado por um "processo de radicalização exacerbado" e "sem precedentes na expressão da violência".

O relatório sublinha que desde meados de 2014 o "hiper-extremismo" islâmico está a eliminar todas as formas de diversidade religiosa e ameaça fazer o mesmo em zonas de África e no sub-continente asiático.

O documento mostrou que, ao contrário da opinião popular de que as autoridades são os principais responsáveis pelas perseguições, os atores não-estatais, como grupos fundamentalistas ou militantes, são responsáveis pela violência religiosa em 12 de 23 países onde a situação é mais grave.

A violência registada em países como o Afeganistão, Somália e Síria tem sido determinante no aumento do número de refugiados que, no ano passado, alcançou o valor recorde de 65,2 milhões, de acordo com dados da ONU.

No Ocidente, a ação de terroristas e a pressão dos refugiados está a levar a um aumento da popularidade de "grupos populistas ou de extrema-direita, restrições à liberdade de circulação, discriminação e violência contra a fé de minorias e ao declínio da coesão social", acrescenta.

A AIS denuncia "um aumento de ataques antissemitas, nomeadamente em algumas partes da Europa". Por outro lado, a fundação católica regista que os principais grupos islâmicos moderados "começam a contrariar" este fenómeno de "hiper-extremismo" em intervenções públicas e outras iniciativas, nas quais "condenam a violência e os responsáveis"..

Se os principais responsáveis pelas perseguições são organizações - como os grupos extremistas Estado Islâmico ou Boko Haram - e não Estados constituídos e reconhecidos, uma "nova vaga de repressões" é desencadeada por regimes autoritários como o do Turquemenistão, da China ou da Eritreia.

Em países como a Índia, o Paquistão ou a Birmânia, onde a religião é identificada com o Estado, são necessárias medidas para defender os direitos de outros credos, o que resultou em mais restrições às minorias, "aumentando os obstáculos à conversão e impondo maiores sanções em casos de blasfémia", refere.

O relatório sobre Liberdade Religiosa no Mundo vai ser apresentado na quinta-feira, em Lisboa, pelo deputado Fernando Negrão (PSD), presidente do grupo parlamentar informal de Solidariedade para com os Cristãos Perseguidos, contando com os testemunhos do arcebispo de Erbil (Iraque), Bashar Warda, e da irmã Guadalupe, uma religiosa argentina na Síria.