“Todos têm de aprender a sua lição, incluindo o Governo de Hong Kong”, afirmou Carrie Lam aos jornalistas, no dia em que faz um ano que cerca de um milhão de pessoas saiu à rua para protestar contra as emendas à lei da extradição no território. Lam não detalhou que lições deviam ter sido tiradas.
“Hong Kong não pode suportar esse tipo de caos, e o povo de Hong Kong quer um ambiente estável e pacífico para poder viver e trabalhar aqui feliz”, disse.
O movimento ressurgiu no ano passado, dia 9 de junho, quando centenas de milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra as emendas à lei da extradição que Carrie Lam queria fazer passar.
“O protesto em massa em 09 de junho do ano passado foi gravado na memória coletiva dos ‘HongKongers'”, escreveu no Facebook a Frente Cívica de Direitos Humanos (FCDH), organização que representa mais de uma dezena de partidos e organizações não-governamentais e responsável pelos maiores protestos que aconteceram ao longo do ano passado.
“Também marca o início da nossa união em defesa nossa amada cidade”, acrescentou.
Nesse dia, uma manifestação pacífica encheu a as ruas da antiga colónia britânica, com os cidadãos, vestidos de branco, a marcharem pela cidade.
Um cenário que três dias depois mudou radicalmente: cerca de 500.000 pessoas, segundo a organização, ocuparam a zona em frente ao Conselho Legislativo de Hong Kong exigindo uma vez mais a retirada da lei da extradição. Mas, desta vez, a polícia investiu contra os jovens manifestantes utilizando gás lacrimogéneo.
No domingo seguinte, a cor das roupas dos manifestantes mudou, de branco para preto, e as exigências aumentaram: cerca de dois milhões de pessoas, num território com cerca de 7,5 milhões de habitantes, adultos, crianças, jovens e idosos saíram à rua para travar as emendas à lei da extradição, contra a violência policial, verificada quatro dias antes, e para pedir a demissão de Carrie Lam.
Motivados pela proposta que permitiria a extradição de suspeitos de crimes para a China continental, os protestos evoluíram para uma campanha pró-democracia.
A proposta de lei acabou por cair, mas restam agora quatro reivindicações: a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial e, finalmente, a demissão da chefe de Governo e consequente eleição por sufrágio universal para este cargo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.
O desafio para a luta pró-democrática parece, passado um ano, agora mais difícil.
Pequim quer impor a lei da segurança nacional a Hong Kong, cujo projeto de Lei foi aprovado durante o encerramento da sessão anual do legislativo chinês, no dia 28 de maio. O projeto de lei recebeu 2.878 votos a favor, um contra e seis abstenções.
O documento agora apresentado surgiu após repetidas advertências do poder comunista chinês contra a dissidência em Hong Kong, abalado em 2019 por sete meses de manifestações em defesa de reformas democráticas e quase sempre marcadas por confrontos com a polícia.
No ano passado, cerca de 9.000 pessoas foram detidas em Hong Kong por participarem nos protestos, das quais mais de 1.700 já foram acusadas.
Uma lei criticada pela maioria da comunidade internacional e que levou os Estados Unidos a deixarem de considerar Hong Kong um território semi-autónomo da China continental.
A lei de Pequim feita para Hong Kong proíbe “qualquer ato de traição, separação, rebelião, subversão contra o Governo Popular Central, roubo de segredos de Estado, a organização de atividades em Hong Kong por parte de organizações políticas estrangeiras e o estabelecimento de laços com organizações políticas estrangeiras por parte de organizações políticas de Hong Kong”.
“Isto destruirá completamente a fórmula ‘um país, dois sistemas’ e transformará [Hong Kong] em ‘um país, um sistema’. As nossas liberdades e direitos serão todas privadas”, denunciou à Lusa a ativista de Hong Kong Agnes Chow, membro do partido pró-democrata Demosisto.
Agnes Chow referia-se ao acordo, assinado quando Hong Kong foi devolvido pelo Reino Unido à China em 1997, que garantia ao território 50 anos de autonomia e liberdades desconhecidas no resto do país, ao abrigo do princípio “um país, dois sistemas”, que termina oficialmente em 2047.
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