Embora o que está realmente em causa nas eleições são os problemas locais – como o estado das estradas, limpeza das ruas ou o funcionamento de serviços como a recolha do lixo -, alguns eleitores deverão aproveitar a ocasião para enviar uma ‘mensagem’ ao Governo sobre a situação política nacional.

Em Inglaterra, vão ser disputados 4.360 postos em 146 autarquias, na Escócia serão 1.227 assentos em 32 localidades e no País de Gales vão a votos 1.200 lugares em 22 municípios.

Na Irlanda do Norte estão em disputa todos os 90 assentos na Assembleia Legislativa, eleitos por cada um dos 18 distritos eleitorais.

As eleições locais em Inglaterra realizam-se quase todos os anos, mas em diferentes autarquias. Nos locais do ano passado em Inglaterra, os Conservadores conquistaram mais 235 postos e o Partido Trabalhista perdeu 327, mas este ano o partido da oposição parte com vantagem nas sondagens.

A crise económica pós-pandemia, agravada pela guerra na Ucrânia, está a pesar no custo de vida, em especial nos preços da energia, combustíveis e alimentação, coincidindo com o aumento de impostos para tapar o buraco orçamental causado pela despesa na saúde criada pela covid-19.

Os britânicos estão prestes a sofrer a maior queda no nível de vida desde a década de 1950, de acordo com a Resolution Foundation, podendo empurrar 1,3 milhões de pessoas em todo o Reino Unido para a pobreza nos próximos meses.

Além disso, Boris Johnson está a sofrer do desgaste causado pelo escândalo “Partygate” relacionado com o desrespeito por funcionários do Governo das restrições para controlar a pandemia, incluindo na residência oficial do primeiro-ministro, em Downing Street.

Johnson, a esposa Carrie e o ministro das Finanças, Rishi Sunak, foram multados pela polícia, que continua a investigar mais “festas”, e o parlamento decidiu abrir um inquérito para determinar se o chefe do Governo mentiu aos deputados quando negou qualquer irregularidade.

Apesar da guerra na Ucrânia, o escândalo conseguiu ganhar espaço na agenda mediática, causando cada vez mais desconforto dentro do Partido Conservador, devido ao descontentamento dos eleitores.

Embora este seja um conjunto diferente de eleições relativamente a 2021, já que em causa estão maioritariamente assentos ocupados por trabalhistas, será ainda assim um teste à liderança de Boris Johnson.

A mais valia de Johnson como um trunfo eleitoral será posta à prova em municípios tradicionalmente conservadores em Londres, como Wandsworth e Barnet, e noutras partes do país, como Harlow, Southampton, Newcastle-under-Lyme ou Thurrock.

Algumas sondagens indicam que o Partido Conservador poderá perder mais de 800 assentos no total.

O politólogo Tony Travers admite que isto desencadeie uma “revolta” no Partido Conservador, se um número suficiente de deputados observar nos resultados uma ameaça à própria reeleição nas próximas legislativas, a acontecer até 2024.

“Tudo se resume à pergunta: será que vou manter o meu lugar? Se considerarem que o primeiro-ministro já não garante que tal aconteça, ele fica em apuros”, afirmou o professor de ciências políticas da universidade London School of Economics.

Porém, acrescenta Sara Hobolt, académica na mesma instituição, Johnson tem a favor o facto de nenhum potencial candidato à sucessão de destacar atualmente.

“Se os deputados [conservadores] soubessem que havia alguém que fosse tão popular com os eleitores, [Johnson] seria posto fora em breve, mas não parece que seja o caso”, comentou.

O Partido Trabalhista tem nestas eleições o desafio de recuperar eleitores perdidos para os ‘tories’ nas regiões norte e centro de Inglaterra por causa do ‘Brexit’ nas legislativas de 2019 e credibilizar a aspiração do líder Keir Starmer em chegar ao poder.

Embora as atenções em Inglaterra estejam centradas no teste de forças do ‘Labour’ e dos ‘tories’, estas eleições são também importantes para os Liberais Democratas, que querem restabelecer a nível local apoio perdido nos últimos anos.

As eleições locais são também uma oportunidade para os Verdes, partidos menores e candidatos independentes “brilharem” e conquistarem algumas cadeiras, o que a nível nacional é mais difícil devido ao sistema eleitoral de maioria simples.