“Votaríamos a favor de uma moção de censura contra qualquer governo de esquerda”, afirmou o presidente do partido União Nacional (RN, extrema-direita), Jordan Bardella, juntamente com Marine Le Pen, após uma reunião com Emmanuel Macron no Eliseu.
Marine Le Pen assegurou que, mesmo que não houvesse ministros da LFI num governo de esquerda, o partido e o seu fundador, Jean-Luc Mélenchon, iriam “realmente liderar o governo”.
Em declarações conjuntas à imprensa, Jordan Bardella considerou que um governo de esquerda representaria “um perigo para a ordem e a vida económica do país”.
Ambos atacaram diretamente o Presidente francês pela situação atual do país, em que as eleições legislativas antecipadas – convocadas por Macron após a sua derrota nas eleições europeias – deixaram uma Assembleia Nacional sem um bloco capaz de se aproximar de uma maioria absoluta.
“Emmanuel Macron escolheu o caos”, afirmou Marine Le Pen, enquanto Jordan Bardella denunciou a “paralisia política” no país, com o governo de Gabriel Attal em funções, a dirigir assuntos correntes, desde a segunda volta das eleições de 7 de julho, o que representa um total de 41 dias, um recorde desde o pós-Segunda Guerra Mundial.
Marine Le Pen apelou ainda a “uma sessão extraordinária” da Assembleia Nacional para debater rapidamente medidas que respondam às expectativas dos cidadãos, nomeadamente em matéria de poder de compra.
No meio de especulações sobre se Macron irá prolongar o ciclo de reuniões ou anunciar a nomeação de um primeiro-ministro, Jordan Bardella disse que o chefe de Estado “não indicou” se iria continuar as consultas ou se já tinha tomado uma decisão sobre um chefe de governo.
Na sexta-feira, o presidente francês recebeu os representantes da esquerda, da direita e do seu partido.
Após esta reunião com o RN, Macron consultou também Éric Ciotti, antigo líder dos Republicanos, destituído do cargo após se tornar aliado da extrema-direita para as eleições legislativas.
Entretanto, os líderes dos partidos de esquerda, cujo bloco obteve o maior número de lugares nas eleições legislativas, insistiram hoje que Macron deveria nomear a candidata da coligação, a funcionária pública Lucie Castets, como primeira-ministra.
O primeiro-secretário do Partido Socialista, Olivier Faure, afirmou à estação de rádio FranceInfo, em referência a Macron, “em nome de que direito divino é possível que aqueles que perderam as eleições decidam quem governa e quem não governa”.
Já o representante da LFI, Manuel Bompard, denunciou as “manobras do Presidente da República para impedir [a esquerda] de governar o país” e avisou que qualquer primeiro-ministro que não Lucie Castets, levaria à “censura” do novo governo, à “mobilização” nas ruas e à “destituição” de Macron.
Mas a Nova Frente Popular, que pretende governar sem uma maioria absoluta na Assembleia Nacional, é rejeitada por todos os outros partidos, tornando improvável um governo de esquerda.
Já a hipótese alternativa de um governo de centro-direita também enfrenta obstáculos e continua dependente da abstenção dos deputados de extrema-direita na Assembleia.
No entanto, a nomeação de um executivo é urgente, nomeadamente para aprovar um orçamento antes do final do ano, que terá de ser apresentado antes de 1 de outubro.
Segundo o Eliseu, Macron pode pronunciar-se hoje à noite, antes de efetuar novas consultas na terça-feira, dia 26 de agosto.
De qualquer forma, a nomeação de um primeiro-ministro não parece iminente, uma vez que os Jogos Paralímpicos começam na quarta-feira, dia 28 de agosto, com o presidente francês a participar na cerimónia de abertura, antes de partir para uma visita à Sérvia na quinta e sexta-feira.
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