Em declarações à agência Lusa, Jaime Marta Soares disse que a CTI “não ouviu os conselhos avisados de quem está no terreno”, que são as corporações associadas da Liga.
“O relatório está aquém daquilo que se esperava. Os contributos dos bombeiros portugueses teriam sido importantes e nós tivemos razão antes do tempo”, sublinhou.
Sublinhando que a Liga ficou “surpreendida com a pouca objetividade” do relatório, Jaime Marta Soares disse que a organização que lidera “já tinha conhecimento aprofundado” de algumas conclusões da comissão, por “ter estado no terreno” após o incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande, em 17 de junho, e que causou pelo menos 64 mortos e mais de 200 feridos.
Em comunicado, além de lamentar que “a comissão, apontada como independente, não tenha tido em conta a participação dos bombeiros e de outros atores" na elaboração do relatório, o presidente do conselho executivo da LBP critica “a atuação negativa da Proteção Civil”.
Tal comportamento “acabaria por pautar-se pela descoordenação generalizada da situação operacional, incluindo a deficiente gestão dos meios no terreno, pelas falhas de comunicações, pela tardia mobilização de mais meios e pela escassez de meios aéreos”, reafirma Jaime Marta Soares na nota.
“Não obstante aduzir muita argumentação e ser extenso”, o relatório da CTI “acaba por não ser tão objetivo como se esperava e desejava, nomeadamente com recomendações que possam ajudar a resolver o que esteve verdadeiramente na génese da tragédia vivida”.
A Liga dos Bombeiros, através do seu presidente, “lamenta ainda que a comissão não tenha dado resposta cabal às mais de 150 questões que lhe apresentou em devido tempo, dadas também a conhecer à tutela" e depois divulgadas.
“Os bombeiros no terreno cumpriram a sua missão com competência e rigor, no âmbito das suas responsabilidades, numa ação cujo comandamento lhes foi totalmente alheio”, acrescenta.
Para a LBP, “os bombeiros chamados a intervir procuraram com competência e saber atalhar a situação, na primeira hora, com uma avaliação inicial adequada e cumprindo todas as regras para situações do género”.
No entanto, a situação “viria a ser profundamente alterada mais tarde, fruto da severidade das próprias condições meteorológicas e agravada pelo próprio estado de abandono generalizado da floresta, e já nessa altura sob a coordenação da Proteção Civil”, afirma.
“A LBP, hoje, como sempre, disponibiliza-se para, em conjunto com outras entidades, contribuir com as suas propostas, há muito apresentadas e lamentavelmente não aceites, para que no futuro situações como esta não voltem a repetir-se no nosso país”, conclui Jaime Marta Soares no comunicado.
A Comissão Técnica Independente nomeada para analisar os incêndios rurais de junho na região Centro, em particular o fogo que deflagrou em Pedrógão Grande, entregou na quinta-feira no parlamento o seu relatório final.
O documento, que analisa incêndios em 11 concelhos dos distritos de Leiria, Coimbra e Castelo Branco, ocorridos entre 17 e 24 de junho, refere que, apesar de o fogo de Pedrógão Grande ter tido origem em descargas elétricas na rede de distribuição, um alerta precoce poderia ter evitado a maioria das 64 mortes registadas.
Além disso, acrescenta, “não foram mobilizados totalmente os meios disponíveis” no combate inicial e houve falhas no comando dos bombeiros.
A GNR fica, por outro lado, ilibada de direcionar carros para a Estrada Nacional 236, onde morreram 30 pessoas.
O documento aponta falta de conhecimento técnico no sistema de defesa florestal e falta de preparação dos atuais sistemas de combate às chamas para as alterações climáticas, confirmando, por outro lado, falhas de comunicação do Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP).
O primeiro-ministro, António Costa, afirmou, na sequência da divulgação do relatório, que o Governo assumirá todas as responsabilidades políticas, se for caso disso.
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