As duas curtas peças que já criaram desde 2013 não têm quase som ou palavras. É a partir da expressão corporal e facial que o grupo de Coimbra, constituído por jovens ouvintes e surdos, vai contando a história, recorrendo apenas à voz para oralizar aquilo que é dito em Língua Gestual Portuguesa.
“A questão de não haver som dá espaço para que o público, sendo surdo ou ouvinte, se foque no impacto visual – é o ritmo e as figuras que mostramos com o corpo” que acabam por desvendar o enredo, disse à agência Lusa a encenadora do grupo, Valentina Carvalho.
Corpus nasceu em 2013, no seio da licenciatura de Língua Gestual Portuguesa da Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC), e conta com 11 pessoas que frequentam ou frequentaram o curso.
Valentina Carvalho, que tinha tido formação em teatro, explica que o processo criativo em torno das peças “é feito em conjunto”: o aspeto visual é completamente central, tornando as ‘performances’ acessíveis ao público ouvinte e falante.
A reação do público aos espetáculos do Corpus tem sido “muito positiva”, especialmente por parte da comunidade surda, com alguns a ficarem “espantados com as cores, com o jogo visual e com a forma como o movimento conta uma história”, refere.
A encenadora recorda-se de uma pessoa ouvinte lhe dizer que “nem se sente a falta do som ou da música”.
“A receção [por parte da comunidade surda] é muito boa e identificam-se com a peça: ‘Aquele é um dos meus'”, dizem, explica Rafaela Silva, membro do grupo desde o seu início, sublinhando que tem um especial significado para os jovens quando veem “adultos a fazerem teatro e a usarem língua gestual”.
Para Rafaela Silva, o grupo mostra aos jovens que “são capazes, que são surdos, mas que não é isso que os faz ser menos que os outros”.
Pedro Ribeiro, de 33 anos, é surdo e optou por entrar no grupo pelos “conhecimentos que se adquirem” no projeto.
“No fim das apresentações, sinto-me bem e sinto que aquele sou eu”, refere, sublinhando que as pessoas da área da Língua Gestual acabam por ter menos “vergonha” em utilizar o corpo, visto que têm de utilizar o movimento e os gestos todos os dias para comunicar.
Ana Oliveira, de 23 anos, que já terminou o curso, afirma que a experiência “é muito boa”, recordando que tudo começou com um ‘workshop’ em Lisboa, com uma encenadora da Suécia que já trabalhava com a Língua Gestual e com o teatro visual.
Neste projeto, os membros encontram também uma forma de melhorarem o seu domínio da Língua Gestual, sublinha Raquel Lapa, do Corpus.
“Nós criamos em nós próprios algumas barreiras físicas e o teatro é uma maneira de nos libertarmos. Obriga-nos a dar mais expressão, a usar o corpo para transmitir aquilo que queremos e isso acaba por ajudar imenso”, realça.
O grupo amador atua em mostras e concursos de teatro, apresentações em escolas e também em espetáculos de rua, sempre com o intuito de contar histórias a partir do silêncio do gesto e do movimento.
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